Elena Martinis cresceu vendo o pai tocar sua pequena empresa de representação comercial dentro de casa – inclusive o acompanhava nas visitas. “Desde cedo, aprendi que cada passo pode significar a sobrevivência ou não de um negócio”, conta. Acabou se formando e fazendo mestrado em paleontologia, mas o empreendedorismo estava em suas veias, tanto que migrou para o mundo do coach e das palestras, e dali não saiu mais. Autora de “Mulher de negócios – faça sua empresa acontecer”, coautora de “Ensino de empreendedorismo no Brasil” e com um terceiro livro pronto, que vai se chamar “Receitas de empreendedorismo”, hoje ela atua na área de pós-carreira, ou seja, orientando as pessoas a buscar novos caminhos profissionais.
“Quando falamos da fase pós-aposentadoria, temos dois grupos bem distintos: um mais protegido e o outro, não”, explica. “O primeiro normalmente tem mais anos de estudo e conseguiu acumular uma reserva financeira. O segundo é o dos desprovidos, que perderam o emprego e não conseguiram se recolocar. Há grandes diferenças entre eles, mas, em comum, há o fato de que todos estão fora do mercado de trabalho, despojados do sobrenome corporativo. Mesmo quem entrou num PDV (programa de demissão voluntária)”, acrescenta.
Ela lamenta que as empresas descartem essa mão de obra experiente: “perdem em diversidade, é um desperdício de talentos”. Mas sua maior preocupação é com os indivíduos que são destituídos não só da identidade social, mas também de um senso de propósito: “é um baque e muitos entram em depressão. As pessoas ficam sem chão, sem dinheiro, sentem-se sem valor”, afirma.
É aí que entra em ação com o “Projeto futuro”, cujo objetivo é traçar caminhos. “Trata-se de uma construção pessoal, que nem sempre significa abraçar algo novo, mas, muitas vezes, resgatar interesses antigos, habilidades que não foram desenvolvidas”, diz. Elena estimula que todos criem uma espécie de ritual de despedida da etapa anterior: “é importante rever a trajetória, agradecer pelo que foi alcançado”.
Na reflexão que propõe, Elena sugere que as pessoas pensem em cinco frentes que podem funcionar como um ponto de partida: “em primeiro lugar, o hobby pode se tornar uma fonte para complementar a renda. Pode ser marcenaria ou montagem de festas infantis, conheci um rapaz que recuperou a receita de um bolinho que a avó fazia”. Para os que se dedicam a ajudar os filhos na criação dos netos, a coach lembra que o cuidado é um campo de atuação que pode se transformar numa atividade, como cuidar de idosos, ou de animais de estimação. Há ainda quem queira voltar a estudar ou ser voluntário. Para os que pensam em abrir uma empresa, cita o Sebrae, que tem uma área voltada para o empreendedorismo sênior, e enfatiza que a experiência adquirida em décadas de trabalho representa uma ferramenta valiosa: “o que uma pessoa aprendeu, por exemplo, sobre gestão, logística ou distribuição em seu antigo emprego vai ajudar na formatação do próprio negócio”.
Fonte: https://g1.globo.com