Celebrando os 130 anos que Cora Coralina faria se estivesse viva, aqueles que ficaram marcados pela história dela organizaram algumas celebrações pela cidade de Goiás. Os admiradores da poetisa mais conhecida do estado festejam com cavalgada, bolo e música o aniversário dela, terça-feira (20). Veja a programação no fim da reportagem.
Cora nasceu Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, em 1889, quando a cidade de Goiás ainda era Vila Boa de Goyaz. Ela criou o pseudônimo depois dos 14, quando começou a escrever seus contos e versos. O significado dessa nova assinatura, segundo ela, seria “coração vermelho”.
Ela estudou só até a 3ª série do primário, mas isso não a impediu de se tornar a poetisa mais conhecida e admirada do estado e uma as maiores referências na literatura em todo o Brasil.
Cora Coralina, na cidade de Goiás — Foto: Reprodução/Museu Casa de Cora Coralina
Dos 95 anos que viveu, cerca de 30 foram na casa onde é hoje o Museu Casa de Cora Coralina, que mantém a história dela viva. O espaço é administrado pela professora aposentada e “pupila” da poetisa, Marlene Vellasco.
No tempo que passou fora de Goiás, ela morou em diferentes cidades de São Paulo com o marido e os filhos. Segundo Marlene, em todos esses lugares ela deixou sua marca de alguma forma. Vendeu tecidos, flores, participava ativamente da vida da cidade e chegou até a ser candidata a vereadora.
Ainda assim, foi em Goiás que ela criou raízes e fez história.
Aos 67 anos, depois da morte do marido e com os filhos já criados, ela voltou sozinha para a terra natal, para ficar. De volta à casa que sempre foi da família dela, ela passou a vender doces na porta de casa.
“Ela falava que a arte de cozinhar era a mais nobre de todas, e que a escrita vinha depois”, lembrou Marlene.
Cora Coralina em foto na sua cozinha na cidade de Goiás — Foto: Vitor Santana/G1
Cora começou a escrever aos 14 anos, quando fez o primeiro conto para uma publicação criada com as companheiras Leodegária de Jesus, Rosa Godinho e Alice Santana: o Jornal da Rosa.
Foram décadas escrevendo para publicações de todo o Brasil. Marlene disse que, no começo, eram só contos, mas que depois de 1922 ela passou a se sentir mais livre para escrever em versos.
Cora já tinha milhares poemas escritos à mão quando, aos 70 anos, passou a aprender a datilografar para facilitar o acesso aos seus versos.
Os estudos também a ajudaram a publicar o primeiro livro, que veio cinco anos depois: Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. De cara ela já ganhou do escritor Osvaldino Marques um artigo que a descrevia como “professora da existência”.
Depois deste, vieram Meu Livro de Cordel, em 1976, e uma segunda edição do primeiro livro, em 1978. Nesse tempo ela já era a 5ª cadeira da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, entre tantas outras honrarias ao seu trabalho.
Falando em reconhecimento, Cora Coralina também foi a primeira pessoa a ser nomeada doutora pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Ela também ganhou os troféus Jaburu e o Juca Pato – a primeira mulher a receber os dois.
Fora o reconhecimento que vinha em prêmios, ela recebia várias pessoas em casa que queriam aprender com ela, conversar. Alguns fãs mais distantes a encontravam por correspondência.
Em 1979, Drummond de Andrade, que não a conhecia pessoalmente, publicou uma carta no Jornal do Brasil tecendo elogios à obra dela na esperança de que ela fosse ler. E ela leu. Foi quando eles começaram a trocar cartas, como ela já fazia com Jorge Amado e Zélia Gattai.
Carta de Carlos Drummond enviada para Cora Coralina, em Goiás — Foto: Vitor Santana/G1
Todos esses grandes nomes e muitos mais se declaravam fãs incondicionais da poetisa, sempre elogiando o trabalho dela – e ela, o deles.
Cora morreu em 1985, aos 95 anos, por causa de uma pneumonia. Deixando um legado que é reconhecido, lembrado e celebrado intensamente até hoje.
Para celebrar os 130 anos da poetisa, um grupo de cavaleiros fazem um trajeto pelo Caminho de Cora até a cidade de Goiás. Eles saíram na metade do Caminho de Cora, em São Francisco de Goiás, e chegarão à casa dela na terça, para o aniversário. No caminho, eles vão passar por Jaraguá, Itaguari e Itaberaí.
Durante a viagem, eles farão paradas especiais para prestar homenagens a Coralina. Uma das paradas é na Cruz do Chico Mineiro, onde devem se encontrar com o governador, Ronaldo Caiado (DEM).
Às 17h, eles planejam chegar às portas do Museu Casa de Cora, onde encerram a cavalgada em homenagem à poetisa.
Casa de Cora Coralina, na cidade de Goiás — Foto: Vitor Santana/G1
O evento também simboliza o lançamento do Ano de Cora Coralina e de um selo comemorativo dos Correios pelos 130 anos da poetisa.
A iniciativa do governo de criar esse ano dedicado à poetisa pretende programar atividades culturais que lembrem o trabalho e a vida dela. Ainda não existe uma programação, mas a ideia é organizar saraus, oficinas, concursos literários e de redação, exibições audiovisuais e exposições.
Percurso
O Caminho de Cora feito pelos cavaleiros foi desenvolvido em parceria com o Museu Casa de Cora Coralina, que preserva a história, memória e missão da vilaboense. Coordenadora do espaço, a professora aposentada Marlene Vellasco disse que ajudou a escolher os poemas dela que enfeitam o trajeto.
“Todos tem ligação com a natureza. Então a pessoa está fazendo a trilha, cansada e para em um dos pontos para se sentar e ler um poema dela enquanto admira a paisagem. É uma forma de renovar a energia do viajante”, afirmou.
Uma das paisagens no percurso do Caminho de Cora Coralina em Goiás — Foto: Reprodução/Facebook/Goiás Turismo
Além dessas homenagens prestadas pelo governo do estado e pelos cavaleiros, está o roteiro da própria Casa de Cora. Este ano, o museu comemora 30 anos na mesma data que a poetisa completaria 130.
O dia começa com uma homenagem do 6º Batalhão da Polícia Militar, cuja banda faz a alvorada às 6h30 na porta do Museu.
Para a noite, a organização prevê uma Missa de Ação de Graças no Santuário de Nossa Senhora do Rosário, ás 19h, seguido pelo lançamento do Ano de Cora Coralina e do selo comemorativo dos Correios.
Às 21h a cidade toda se reúne em uma tradição que começou em 1980 com a própria poetisa: a partilha do bolo em comemoração ao Dia do Vizinho, instituído também por ela. Na ocasião, cada um leva um bolo, sendo o maior oferecido pela prefeitura da cidade, e cantam Parabéns A Você para Cora.
As celebrações se encerram às 22h com uma serenata na frente do Museu, feita pelo cantor goiano Marcelo Barra.
Cora Coralina, Cidade de Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Para Coralina, com amor:
- 6h30 – alvorada no Museu Casa de Cora
- 9h às 16h – funcionamento do Museu para visitantes
- 16h – Lançamento do Ano Cultural Cora Coralina e do selo comemorativo dos Correios
- 19h – Missa de Ação de Graças no Santuário de Nossa Senhora do Rosário
- 21h – Partilha dos bolos
- 22h – Serenata com o cantor Marcelo Barra
Programação no Senac Cora Coralina:
- 14h – Abertura do evento.
- 14h15 – Professora Doutora Diane Valdez irá palestrar e declamar para os participantes;
- 15h – O jovem Helter irá recitar o poema “Saber Viver”;
- 15h15 – Intervalo com Prosa;
- 15h30 – O jovem Paulo irá tocar o instrumento Ukulele, o jovem Guilherme irá cantar a canção Cora Coralina de Flavio Magalhães. Enquanto apresentam, Diogo irá interpretar em LIBRAS;
- 15h40 – As jovens Yasmim e Poliana irão recitar um poema;
- 15h45 – Apresentação teatral da vida de Cora Coralina – Jovens Mariana e Jackson;
- 16h – Áudio book – Jovem Wisley;
- 16h15 – Jogral do poema: Meu destino – Cora Coralina (Grupo: Ana Luisa, Sávio, Enny, Richard, Patrick, Nathalia e Matheus);
- 16h30 – QUIZ com perguntas da vida de Cora Coralina – Jovem Alexsandra;
- 17h – Professora Doutora Diane Valdez irá declamar um último poema para fechar o evento;
- 17h10 – Encerramento.
Fonte: https://g1.globo.com