Limites e possibilidades do sexo na velhice

A meta era reunir um número considerável de pessoas que se dispusessem a refletir sobre o passado e o presente de suas relações amorosas e sexuais.

‘Câncer de próstata, que me deixe impotente. Seria o equivalente à morte para mim’.  J, publicitário, 63.

‘Medo de perder a libido, medo de ficar seca, medo de não ter mais tesão. Muito real. Muito’. Melita, jornalista, 55.

‘Eu não tenho fantasia nenhuma. Já me entreguei, e não sinto tesão nenhum. Sinto falta de um parceiro, mas não encontro. Os homens da minha faixa de idade querem meninas novas, eu tenho preconceito com homens mais jovens do que eu. Também não consigo me masturbar, então estou broxada’. Miriam, bancária, 56.

‘Solidão real é punheta’. Zé, motorista de Uber, 63.

Estas são algumas respostas a uma das treze perguntas que a jornalista Tania Celidonio apresentou a centenas de pessoas, brasileiros e brasileiras, quase todos de classe média, via internet, garantindo o anonimato aos que topassem responder. A questão específica no caso era ‘Quais são os fantasmas da velhice? E o que é real, mesmo que fantasmagórico?’

Duzentas e cinquenta pessoas – a maioria mulheres – responderam ao questionário, que virou um livro, ‘Mistérios da Libido na velhice’, editado pela própria autora, e disponível eletronicamente nas boas lojas do ramo por 12 reais.

Tania Celidonio é paulistana, mas mora no Rio. Depois de flertar com a História e a Música, como ela própria diz, foi repórter e editora, nas rádios Globo, Eldorado e TV Cultura, além de roteirista, editora e diretora de programas em diversas produtoras. Tem um blog sobre cinema e, por seis meses, resolveu investigar um universo pouco noticiado: o sexo na velhice.

O grande mérito de Tania é não ter ido além do que poderia, com um painel necessariamente parcial e impressionista. Ela própria admite a limitação: ‘O objetivo nunca foi realizar uma pesquisa científica, quantitativa ou qualitativa. A meta era reunir um número considerável de pessoas que se dispusessem a refletir sobre o passado e o presente de suas relações afetivas, amorosas e sexuais’.

O material coletado pode virar uma peça de teatro agora. São quatro atores e pequenos monólogos. Tania informa que está em busca de um diretor ou diretora.

As respostas selecionadas para o livro mostram que há sim sexo na velhice, e que ele continua sendo complicado, prazeroso, diverso e intenso. Registram ainda que muita gente prefere relembrar os bons tempos que não voltam mais, do que enfrentar o desafio da experiência nem sempre exitosa e chegar ao prazer.

Maria de Paula Oliveira, empresária, 64 anos (nomes são todos fictícios) resume a história: ‘A velhice acalma o sexo’. Sentido oposto tem a experiência de Rosângela, publicitária, um ano mais velha: ‘A qualidade do sexo é melhor agora’. Maria, dona de casa, 71 anos, admite: ‘Eu quero sempre mais, mas não tenho. Gosto de garotos, gosto muito do belo, mas o medo não deixa’.

Muitos depoentes parecem ser absolutamente francos. Isabela de Marco, jornalista, 57, assegura: ‘Perdi a libido aos 36 anos. Nunca mais me interessei por sexo e muito menos por romances’.

A Aids é uma espécie de sinal vermelho na avenida da liberação sexual, em que boa parte dos depoentes trafegava. ‘Para mim foi nos anos 1980, em plena juventude. Era um tempo mágico. Talvez por não existir tanta tecnologia, a gente corria perigo. Para se ter uma ideia, eu nunca transei com camisinha – não sei o que é isso. E bem quando a Aids fazia suas primeiras vítimas’. Isabela de Marco, jornalista, 57.

‘Vivi num segundo round após a primeira separação, no fim dos anos 1970. Casamento aberto, muitas separações, relacionamentos rápidos e intensos, até chegar a Aids’.  Angelo Alcântara, cineasta, 65 anos.

‘Minha geração deu de cara com a Aids, e todos ficaram mais caretas e reticentes. Mesmo assim, muitos de minha idade passaram a ter uma relação mais aberta entre namorados e família, por exemplo’. Quase Sessentão, artista gráfico, 59

No campo da memória, há lembranças tórridas, mas nem só:

‘Minhas lembranças são com o meu marido. Se não tivesse relação com ele, ele iria procurar outra pessoa. Então o jeito foi ter’. Luar, dona de casa, 57.

‘Não tenho boas lembranças, achava que sexo era pecado. Quando beijei pela primeira vez na boca, achei que tinha engravidado. Tinha 16 ou 17 anos. Uma fase de muita repressão, pecado, proibições’. Maria, documentarista, 70.

E o que essa gente trouxe do passado?

‘A minha masculinidade por demais machista de só pensar no meu orgasmo em primeiro lugar. O delas ficava pra depois’. Joel, ator, 81

‘Não trago nada. Não gosto de lembrar. As pessoas seguem mentindo’. Isadora Duncan, jornalista, 66

‘Tenho a noção exata do que se sente ao fazermos sexo sem amor, sexo pelo sexo, e o sexo com amor. Sentimentos e sensações absolutamente diferentes’.  Amaranta, roteirista, 68.

Para encerrar um exercício, que o autor deste blog propôs à própria Tania (ela recusou, dizendo que já se expôs demais ao longo da vida): responda às perguntas que seguem abaixo, imaginando que a resposta não seja anônima, mas pública. Dá para falar a verdade ou é melhor fazer como Tania e fugir da raia?

1- Quando você pensa em sexo e relações sexuais no presente as lembranças da juventude parecem muito distantes?

2- A liberação sexual dos anos 1960, 1970 e 1980 provocou muitas transformações pessoais e nos relacionamentos. Você viveu isso?

3-Quais são as lembranças das suas relações afetivas e sexuais na juventude? O que foi mais importante nessas relações?

4- Quais são as experiências da juventude que você trouxe para os dias de hoje?

5- Quais são os fantasmas da velhice? E o que é real, mesmo que fantasmagórico?

6- O que você trouxe da sua juventude para o sexo de hoje? E o que você deixou para trás e não tem saudade?

7- Você acha que na velhice os homens encontram parceiras ou parceiros sexuais com mais facilidade que as mulheres?

8- Ficar velho (a) é uma maneira de se livrar da obrigação de fazer sexo?

9- Ser casado é um estímulo para fazer sexo na velhice? E ser solteiro?

10- Existe um jeito especial de estimular o desejo sexual na velhice?

11- Você usa algum ‘aditivo’ antes ou durante suas relações sexuais?

12- De que forma o sexo afeta as suas relações, seja com parceiros(as) ou outras pessoas em pleno processo de envelhecimento?

13- Como é a sua vida sexual? Você transa com frequência? Sente falta ou vontade de transar mais?

Fonte: https://terceiraidadeconectada.com

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