A Importância da família

Abordar a questão do idoso dentro do âmbito familiar é o objectivo deste post. Analisemos duas questões: por um lado, temos o ponto de vista do idoso.

Abordar a questão do idoso dentro do âmbito familiar é o objectivo deste post. Analisemos duas questões: por um lado, temos o ponto de vista do idoso com suas necessidades e expectativas e por outro a família moderna com sua organização e dinâmica, nem sempre entendendo o processo que o idoso experimenta nessa etapa da vida.

   A família é definida como um grupo enraizado na sociedade e tem uma trajectória que lhe implica responsabilidades sociais. Especialmente perante o idoso, a família tem vindo a assumir um papel importante e inovador, na medida em que o envelhecimento acelerado da população que agora vivemos é um processo recente e ainda pouco estudado pelas ciências
sociais.

   Cabe aos membros da família entender essa pessoa no seu processo de vida, as transformações, conhecer as suas fragilidades, modificando a sua visão e atitude sobre a velhice e colaborar para que o idoso mantenha o seu lugar no grupo familiar e na sociedade.

   Aqui cabe uma primeira indagação: Como é que os filhos, de uma forma geral, habituados a serem cuidados e a estarem dependentes dos pais, por bons anos das suas vidas, num dado momento, passam a experimentar uma inversão nessa relação, quando os pais começam a necessitar de atenção e ajuda?

   Com as fragilidades que muitas vezes acompanham o processo de envelhecimento é comum surgirem conflitos entre os filhos quando a situação dos pais lhes passa a exigir novas responsabilidades e cuidados. Na realidade, a família precisa de um período de adaptação para aceitar e gerir com serenidade a nova situação, de forma a respeitar as necessidades dos pais e evitar que se sintam um peso para os filhos. Daí a importância do idoso reunir esforços para, nos mais diversos sentidos, não se entregar à inactividade, evitando o mais possível o sentimento de dependência da família que tanto aflige o idoso.

   Percebemos, em nossa experiência prática , que os idosos carregam a expectativa de receberem atenção e cuidados dos filhos e netos no momento em que perderem ou tiverem suas capacidades diminuídas, sendo este um fantasma constante a perseguir e preocupar os mais velhos.

   Outra questão importante diz respeito à situação actual do país. O desemprego tem vindo a colocar à margem do processo produtivo um significativo número da chamada população economicamente activa. Os idosos, ainda que empobrecidos, tiveram a oportunidade de viver uma fase anterior na qual havia trabalho em abundância e salário suficiente para sustentar a sua família, adquirir casa própria e o direito à aposentadoria.  

   A dependência entre as gerações, no nosso entender, revela-se em duas formas: a dependência material dos filhos que por precisarem cada vez mais e por mais tempo da protecção dos pais, não hesitam em aceitá-la, até por entenderem como obrigação. A dependência emocional dos pais, fruto do modelo familiar estabelecido. Neste modelo a família é entendida como uma forma natural de organização da vida colectiva, uma instituição estável da sociedade, sendo a união entre os seus membros a principal responsável pela integração e harmonia da vida familiar.   

   Esta dependência caracteriza-se, no nosso ponto de vista, num verdadeiro acordo tácito, ou seja, uma negociação na qual os pais acalentam a expectativa de obter, no momento que necessitarem, a retribuição pela dedicação oferecida à família.

   As mudanças que estão a ocorrer nas representações de família nas novas gerações estão a exigir formas alternativas de convívio familiar e consequentemente a reformulação de valores e de conceitos.

   A família portuguesa está cada vez mais distanciada do modelo tradicional, no qual o idoso ocupava lugar de destaque. Estamos a viver um importante período de transição e mudanças, no qual se verifica necessário o entendimento das transformações sociais e culturais que se processaram nas últimas décadas.

   É muito importante enfrentarmos o nosso próprio processo de envelhecimento dentro de expectativas condizentes com as novas formas de organização familiar. No entanto, qualquer   que seja a estrutura na qual se organizará a família do futuro, há a necessidade de se manterem os vínculos afectivos entre os seus membros e os idosos. Nesta fase da vida, o que o idoso necessita é de sentir-se valorizado, viver com dignidade, tranquilidade e receber a atenção e o carinho da família.

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