Projeto incentiva estudantes a conversarem com idosos que vivem sozinhos em lares de Porto Alegre

De um lado, alguém jovem, com uma vida de planos e projetos pela frente. Do outro, alguém que já passou por toda essa caminhada e tem muita história para contar. Juntos, eles podem dividir experiências, histórias, risadas e, principalmente, companhia num momento em que todos estão mais isolados. É nisso que se baseia o Projeto Ouvir, da ONG Parceiros Voluntários, que atua há 23 anos em Porto Alegre.

 

Entre os diversos trabalhos de voluntariado que a entidade promove, mais um nasceu com a chegada da pandemia do coronavírus. Diante da solidão que pode ser gerada por quem precisa ficar isolado, surgiu o anseio de disponibilizar voluntários para conversar com aqueles idosos que não têm familiares próximos durante este período que o mundo atravessa.

 

E quem ajuda nisso são jovens estudantes de um colégio da Zona Sul, o Leonardo Da Vinci Beta. Membro da Parceiros Voluntários há 22 anos, o professor e coordenador do setor de trabalhos voluntários no colégio, Carlos Alberto Barcellos, viu nos alunos a oportunidade de agregar a ideia da ONG com uma experiência que ficasse marcada na vida dos alunos.

 

— Apresentamos a ideia em março pelo nosso grupo no WhatsApp, já com as aulas presenciais interrompidas. O interesse foi grande desde o primeiro momento. Tivemos 34 alunos que se disponibilizaram a ajudar e até hoje eles seguem neste voluntariado — recorda o professor.

 

Atualmente, os alunos conversam com idosos que moram em duas instituições da Capital, o Amparo Santa Cruz, no bairro Belém Novo, e o Lar Maria de Nazaré, no bairro Petrópolis. As conversas são semanais, realizadas pelo celular, por meio de chamadas de vídeo. Em duplas, os voluntários conversam com os idosos do outro lado da tela. Além de alunos, alguns pais também participam da ação.

 

O Projeto Ouvir conta com a participação de estudantes que estão entre o oitavo ano do Ensino Fundamental e o segundo ano do Ensino Médio. Um ponto importante do projeto, como ressalta o professor Carlos Alberto, é que a mesma dupla de voluntários é que sempre conversa com o idoso ou idosa do outro lado da tela. Com isso, mantém-se um laço constante entre as partes.

 

— Não é uma ação pontual. A gente preza pela continuidade da ação voluntária, que os alunos falem sempre com a mesma pessoa. Isso é um dos pilares do nosso trabalho voluntário — pontua o professor.

 

A proximidade gerada entre estudantes e idosos levou a comunidade escolar a gerar um segundo trabalho voluntário. Como boa parte dos lares de idosos da Capital, a necessidade por auxílio sempre é grande. Por isso, os alunos que participam do Projeto Ouvir organizaram a entrega de mantimentos no colégio para ajudar os locais. Os frutos da ação foram colhidos recentemente, quando foram entregues 700 quilos de alimentos para o Amparo Santa Cruz.

 

A estudante do segundo ano do Ensino Médio Beatriz Pires Fabián, 16 anos, é uma das voluntárias. Semanalmente, ela e outra colega conversam com uma idosa que também mora no Amparo Santa Cruz. A jovem conta que a parte mais recompensadora do voluntariado é ver a felicidade de quem está na conversa:

 

— Foi a minha primeira vez no contato com idosos. Então, foi muito bom, eu percebi que ela ficou muito feliz de ter alguém para conversar. Já na primeira conversa, quando acabou o horário, queríamos manter o contato por mais tempo.

 

“Vamos criando uma amizade”

 

No Amparo Santa Cruz, terças e quartas-feiras são dias esperados. É neste período que ocorrem as conversas entre os voluntários e sete dos 43 idosos que vivem no local. Conforme a psicóloga e coordenadora administrativa da instituição, os encontros têm tido diversos pontos positivos. Os idosos que participam do projeto não constituíram vínculos familiares e, por isso, não costumam receber nenhum contato na instituição. Com isso, a chance de conversar é um afago em meio ao período de isolamento.

 

— No começo da pandemia, até a questão de outros idosos receberem ligações por vídeo de seus parentes gerava essa dúvida de por que eles não recebiam. Com o projeto, isso mudou. Eles se sentem incluídos e ainda têm essa chance de aproximarem mais da tecnologia, se inserindo em um cenário que nunca imaginaram — relata Daniela.

 

Quem participa do projeto, só tem boas histórias a compartilhar. Para Plínio da Silveira, 73 anos, o momento da interação é um dos mais divertidos da semana. Os assuntos variam bastante, vão desde os efeitos da pandemia no cotidiano até o futebol. O idoso nunca tinha conversado por chamadas de vídeo, então, aprende um pouco mais a cada semana. Durante as conversas, eles estão sempre acompanhados por alguém do lar para esclarecer dúvidas.

 

— É gostoso ter uma participação assim pra nós que vivemos sozinhos aqui no lar. Vamos criando uma amizade, por isso, faço questão de conhecê-los pessoalmente quando as coisas melhorarem — diz Plínio.

 

O colorado Auri Santos Quadros, 66 anos, deixa claro um de seus assuntos preferidos já ao revelar o time de coração. Ao conversar com a reportagem, ele perguntou se a conversa não seria por vídeo também, disse que já estava mais acostumado a debater vendo a pessoa pela tela do celular.

 

— Aprendi aqui no lar a conversar por vídeo e já adorei. Achei muito legal — relata ele, bem-humorado.

 

Como ajudar

 

Interessados em participar dos projetos da ONG Parceiros Voluntários, podem acessar o site parceirosvoluntarios.org.br.

 

Lá, é possível conhecer as diversas iniciativas da entidade e as maneiras de ajudar em cada uma.

 

Por telefone, o contato pode ser feito por (51) 2101-9797.

 

Fonte: Gauchazh