Aos 80 anos, Prezilina Barbosa parece uma adolescente em sua primeira aula de violão. Com um sorriso no rosto e muita disposição, ela se diz apaixonada por música e tem o sonho de gravar um CD para deixar de lembranças aos entes queridos. “Há anos vi uma senhora tocando violão na televisão e na mesma hora pensei: se ela pode, eu também posso. No dia seguinte fui atrás de um professor. Hoje, pratico violão três vezes por semana e cada dia com um professor diferente”, conta.
Dona Prezilina se diz fã de moda de viola. “Eu gosto de cantar e tocar. Sou fã da Inezita Barroso e adoro a música ‘Marvada da Pinga’, já consigo até tocá-la”, conta, orgulhosa. Além das aulas de violão, Prezilina já aprendeu a tocar teclado e viola. Canta no coral da igreja, cuida da casa, do marido, se preocupa com os filhos, netos e bisnetos. “Não consigo parar. Já tenho 80 anos e não sei quanto vou durar, então quero aproveitar o máximo. Um amigo já até compôs música em minha homenagem.”
Sem idade para começar
Há 10 anos atuando como músico e professor de música, Marco Aurélio Munhoz da Cunha, conhecido como Marquinho Munhoz, dá aulas de violão no Sesc e diz que nunca é tarde para aprender um instrumento. “O Sesc sempre oferece aula de violão para a terceira idade, mas é a primeira vez que eu dou aula para uma turma exclusiva de idosos.”
Segundo o professor, o primeiro instrumento do ser humano é o ouvido. “Uma das lições de casa é ouvir música, buscar referência, prestar atenção nas batidas. Assim vai se tirando o som, porque a porta de entrada para a música é o ouvido. Agindo assim, a pessoa fica mais sensível”, conta.
Para Munhoz, praticar violão na terceira idade traz inúmeros benefícios. “Os benefícios começam antes mesmo de sair a primeira música. Só de ter de estar aqui, na aula, já é um benefício. Eles criam responsabilidade. Descansam a mente de problemas, porque passam muito tempo concentrados. Eles querem tocar, então, se esforçam para aprender. Fazem amigos, e o fato de você usar as duas mãos ajuda muito na parte da memória e da coordenação motora”, reforça.
Mobilidade e memória
Para o neurologista Carlos Vanderlei Holanda, do Hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo, tocar um instrumento em qualquer idade faz bem, mas na terceira idade é excelente. “Qualquer atividade, seja física ou mental, é importante para o idoso. Com o avanço da idade, a atividade física e a capacidade de raciocínio vão diminuindo e é necessário que haja um estímulo a mais para que o cérebro continue trabalhando”, diz.
Segundo Holanda, tocar um violão estimula a mobilidade e a memória através da música e da melodia. “Com todo esse aprendizado, o idoso manda vários estímulos para o cérebro. E poder se distrair, ter algo para fazer é muito bom, principalmente numa fase da vida em que a pessoa pode se sentir acomodada”, destaca.
Outro ponto importante em aprender violão na terceira idade, segundo o especialista, é trabalhar coordenação motora e resgatar a força nos membros superiores. “Tocar violão implica na utilização de uma forma do seu membro superior direito e da utilização de outra forma do seu membro superior esquerdo. Então, isso quer dizer que o movimento que você faz na sua mão e no seu braço direito é diferente do que você faz no braço esquerdo, e para que isso fique em harmonia é preciso coordenar cada movimento. Junte a isso o resgate da melodia e o recorrer de suas lembranças. Tudo isso faz um bem danado para o idoso.”