Trajes especiais que simulam os efeitos do envelhecimento não são novidade – o primeiro protótipo surgiu na fábrica de automóveis Ford, nos anos 90 do século passado. Mas o interesse pelo assunto tem multiplicado as iniciativas e já existem diversas empresas – nos Estados Unidos, Alemanha, Austrália, Polônia e Japão – que fabricam essas vestimentas sob encomenda. Em Santa Catarina, o Senac desenvolveu um modelo similar, e uma empresa da área farmacêutica brasileira importou dois conjuntos, para chamar a atenção. Pela internet, é possível encomendar os trajes, que não são baratos: custam mais de dois mil dólares cada.
Os clientes costumam ser hospitais e entidades que formam cuidadores de idosos, mas em muitos casos, estudantes muito jovens também acabam experimentando as vestes, que transformam o ato de subir um lance de escada, atravessar um cruzamento ou colocar um copo sobre a mesa em desafios.
Consta que a primeira simulação de idade aconteceu ainda nos anos 70 do século passado, numa clínica geriátrica alemã: consistia em colocar pesos nos braços, elásticos entre as pernas e óculos cheios de vaselina diante dos olhos de estudantes de medicina para lhes dar a impressão sobre o que significava ser velho e doente.
No caso da Ford, o objetivo foi identificar problemas no design dos automóveis que poderiam dificultar o uso pelos mais velhos. O primeiro veículo a incorporar mudanças a partir do uso do Third Age Suit foi o Ford Focus 2000.
Os engenheiros da empresa dizem que ao longo do tempo, as pesquisas permitiram aumentar o tamanho das portas e torná-las mais fáceis de abrir, para que motoristas e passageiros pudessem se sentar primeiro no assento e depois trazer as pernas para dentro. Também aumentaram o tamanho dos botões, facilitando a localização dos controles nos sistemas de ar condicionado e nos assentos mecânicos, o que ajuda qualquer pessoa com artrite, problemas no túnel do carpo (uma condição que dificulta a manipulação de objetos e é mais frequente com idade ou com perda de sensibilidade nos dedos). Os cintos de segurança também são agora mais fáceis de encaixar e as telas de controle de áudio, navegação, odômetro e velocímetro são mais fáceis de ver.
Uma das empresas mais bem sucedidas no campo dos chamados trajes empáticos, ou simuladores de idade é a alemã Produtk & Projekt, do design alemão Wolfgang Moll, que desenvolveu a vestimenta chamada GERT _ GERontologic Test Suit – a partir de 2005.
Moll estudou design industrial com foco em ergonomia na Universidade de Essen e passou quase 10 anos em uma agência de design trabalhando para a indústria automotiva. Seus trajes estão na faixa dos dois mil dólares e tem diversos acessórios, para o caso de outros problemas, como deficiências.
Há um simulador de tremor que reproduz o tremor das mãos; seis óculos que simulam os distúrbios visuais mais comuns; galochas que replicam uma marcha instável; joelheiras reforçadas para imitar uma maior restrição de mobilidade dos joelhos e um simulador que oferece sensação semelhante à que sofrem as vítimas de AVCs.
Quem usa um traje completo tem a sensação de aumentar sua idade entre 30 e 40 anos.
Também na Alemanha, em Munique, está a SD&C, do doutor Roland Schoeffel, um ex-funcionário da Siemens, que resolveu estudar o assunto depois de acompanhar nessa companhia, as limitações do idosos diante dos eletrodomésticos. A SD&C aluga seus trajes por curtos períodos também.
Nos Estados Unidos, várias universidades tem estudos sobre o assunto. Um dos centros mais reconhecidos é o AgeLab do MIT, em Cambridge, um programa multidisciplinar, criado em 1999, que trabalha com empresas, governo e ONGs para melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas e de quem que cuida delas.
A veste desenvolvida no AgeLab chama-se Agnes (sigla em inglês para Age Gain Now Empathy Suit). Seu público-alvo são estudantes, desenvolvedores de produtos, designers, engenheiros, marketing, planejadores, arquitetos, engenheiros de embalagem e outros que queiram entender melhor as condições dos idosos. Não difere muito dos outros trajes.
Algumas empresas já se deram conta de que entender as necessidades dos velhos não é útil apenas para o pessoal da área de saúde: o Barclays Bank usa o processo de simulação de idade para treinar seus funcionários de serviço e algumas empresas britânicas já usam o GERT para o desenvolvimento de produtos.
A Zmorph, uma fabricante polonesa de impressoras 3D lançou há pouco o Age Simulator, desenvolvido em parceria com a universidade de Poznan, para ser fabricado em casa, digamos assim.
O traje foi desenhado após muitas horas de análise do movimento de uma mulher de 75 anos que realizava atividades diárias – caminhando, dobrando-se, agachando-se, sentando em uma cadeira, levantando-se, subindo escadas ou alcançando objetos da prateleira. Cada pequeno detalhe em seu movimento foi notado e transferido para o design do traje.
Mas há uma grande barreira para o crescimento desse mercado: velhos não costumam comprar produtos para idosos. Nos anos 50, a Heinz tentou comercializar uma linha de alimentos senior, que se assemelhava a uma comida de bebês para idosos e fracassou redondamente.
O mesmo insucesso ronda os dispositivos que alertam os cuidadores e parentes quando um velho cai. Segundo Joseph Coughlin, fundador e diretor do AgeLab, disse ao repórter Adam Gopnik, da revista The New Yorker, há poucos dias, nos EUA esse dispositivo não alcança nem 4% do mercado acima dos 65. A razão é simples:
“Em outras palavras, muitos idosos prefeririam se debater no chão, aflitos, do que apertar um botão – um que convoque assistência, mas cujo impacto real é admitir que ele é um velho. Não compramos produtos apenas para realizar certas tarefas, mas pelo que eles dizem sobre nós. Essas pulseiras ou pingentes beges ou azul claro dizem: ‘Velho caminhando’.”