Nilton Palhares, 76 anos, enumera do que mais sente falta: de nadar, de dançar nos bailes e de conviver com a turma da “confraria dos colunáveis”, um grupo de idosos que têm em comum os problemas de coluna.
— No dia em que isto acabar, mesmo que esteja chovendo, vou sair à rua e caminhar 48 horas seguidas — anuncia.
Professor aposentado, ele se mantém ocupado com a pesquisa e a catalogação de peças do museu da Rede de Escolas São Francisco, do qual é curador. Mas reconhece que é sofrido viver espremido entre paredes.
— É um tédio. Vejo filme. Leio livros. Olho piadinhas nas redes sociais. Rezo. Medito. E durmo. O tempo vai passando. Mas não está muito bom. Está tedioso — queixa-se.
O distanciamento de Nilton é vivido com a mulher, Tânia Moll, 61 anos, que também está achando muito difícil ficar em casa. Mas, como é mais jovem que o marido, pelo menos ela sai do apartamento para passear com o cachorro e fazer as compras necessárias.
— Estou acostumada a sair todos os dias de casa e ir à Sogipa me exercitar. A rotina está totalmente diferente. Espero que isso acabe. Sinto muita falta do convívio com os amigos. A saída é mandar mensagem, ligar um dia para cada um. Estamos isolados, mas mantendo contato, para nos darmos forças — diz ela.
Nilton conta que, pelo menos uma vez por semana, briga com a mulher, “no bom sentido”, para dar uma escapadela do apartamento. Ela ralha e se opõe, mas ele vai até a esquina com o cão.
— Ela não quer que eu saia. E eu também sei que o risco é grande. Mas é que cansa ficar em casa. Cansa falar com a vizinha pela janela — explica.
Newton Luiz Terra, professor do Instituto de Geriatria e Gerontologia da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), reafirma a importância de os idosos permanecerem em distanciamento social, lembrando que eles são seres diferentes do adulto, com uma série de características próprias, entre elas um sistema imunológico mais vulnerável. Isso não significa que seja fácil ficar confinado. Terra reconhece que a experiência pode ter fortes impactos.
— As implicações são emocionais e sociais, com alterações de humor e situações de ansiedade e angústia. Isso vale para todo mundo, mas idosos estão mais propensos. Quanto maior a idade, mais sensível e angustiada a pessoa fica. Serão uns quatro meses de sacrifício. Tem de pensar que é preciso fazer isso agora para poder passar o próximo Natal com os filhos — afirma.
O especialista aconselha a procura por serviços online de psicoterapia e aponta que encontrar ocupações é uma medida essencial para manter o emocional equilibrado. Sugere manter contato com outras pessoas por meios digitais, usar e abusar das redes sociais, ver filmes, desenvolver hobbies.
— O que não pode acontecer é a pessoa acordar e perguntar: o que eu vou fazer hoje? Tem de acordar com objetivos — diz Terra.
Além da mente sã, há a questão do corpo são, mais difícil de alcançar com a inação doméstica. Apesar das circunstâncias, não abrir mão da atividade física é medida que deve estar no topo da lista de todos — inclusive porque há impactos positivos também no lado emocional. O indicado, diz o professor da PUCRS, são 30 minutos de exercício ao dia, cinco dias por semana. Até quem mora no mais apertado JK tem como se exercitar, garante Terra. Quem não dispõe de espaço para andar dentro de casa pode fazer o movimento de caminhar, mas sem sair do lugar, aproveitando para mexer não só as pernas, mas também os braços.
— Se fizer essa caminhada parada na frente da TV, o tempo passa rápido — aconselha.
Como se manter em atividade no distanciamento social
Confira algumas dicas simples de como se manter ativo durante o período em casa (somente realize as atividades que estão de acordo com sua condição física)
Alongamentos
Em pé, levante os braços sobre a cabeça e entrelace os dedos das mãos. Nessa posição, incline o tronco para a esquerda e para a direita. Repita de cinco a 10 vezes, conforme sua capacidade.
Se tiver facilidade para sentar e se erguer: sente-se no chão com as pernas esticadas e abaixe o tronco sobre elas. Permaneça alguns segundos nessa posição e retorne.
Articulações
Gire as principais articulações do corpo, fazendo movimentos circulares para ambos os lados. Repita algumas vezes isso para os pulsos, braços, ombros e quadril.
Atividades
Caminhe dentro de casa, de preferência em um espaço um pouco mais amplo, sem obstáculos por perto e sobre uma superfície não escorregadia (como um corredor, se houver).
Se estiver habituado a fazer atividades mais intensas, pode simular uma corrida sem sair do lugar.
Se houver algum degrau, suba e desça repetidas vezes colocando um pé, depois o outro. Cuidado para não perder o equilíbrio.
Fonte: Gauchazh.