A amizade é um vínculo emocional significativo, que envolve apreço ou estima entre pessoas, com relativa estabilidade. Ao longo da vida vamos estabelecendo e construindo relações de amizade, no contexto de diferentes cenários, como a escola, o trabalho, a vizinhança, as atividades desportivas, os interesses musicais, etc. Na atualidade, a vida real entrecruza-se, ainda, com as redes sociais, impregnadas por amizades com graus de intensidade muito variáveis.
E nas pessoas mais velhas, que importância tem a amizade? E que tipo de amizades valorizam?
As pessoas mais velhas também têm amigos, embora bem menos do que na juventude. Na segunda metade da vida, o tamanho da rede de amizades diminui gradualmente para metade, em comparação com adultos entre os 20 e os 30 anos (Lang, 2001).
Grande parte desta mudança nas redes de amizade está associada a perdas sociais (Adams, Sanders & Auth, 2004):
• se o trabalho profissional constitui um facilitador de relações com colegas e amigos, a transição para a reforma pode limitar o contato com essa rede;
• os problemas de saúde associados à idade ou a doenças também podem dificultar as saídas de casa e o contato com os amigos;
• por outro lado, a viuvez, a doença ou a própria morte dos amigos condiciona, naturalmente, a rede de amizades.
Não menos importante, uma outra explicação determina as amizades nas pessoas mais velhas.
À medida que envelhecem, tendem a privilegiar amizades mais próximas ou percebidas como mais importantes, enquanto que as relações sociais periféricas (menos próximas) são preferencialmente descontinuados (Lang, Wagner, Wrzus & Neyer, 2013).
Ao percepcionar um tempo de vida mais curto, os indivíduos tendem assim a ser mais seletivos em relação a pessoas e atividades que respondam a necessidades emocionais mais imediatas, evitando despender tempo (precioso) com amigos menos confiáveis ou que aborrecem (Carstensen, 1995; Carstensen, Isaacowitz & Charles, 1999). Esta premissa corresponde à denominada Teoria da Seletividade Socioemocional. Por outras palavras, os idosos preferem preservar um círculo próximo de confidentes (como velhos amigos ou pessoas que conhecem bem) e investir o tempo e a energia disponíveis em relacionamentos mais íntimos, que ocasionam apoio emocional de qualidade.
Na velhice, mais importante do que o número de amigos, é saber com quem poder contar (Antonucci, Ajrouch & Birditt, 2014), o que parece afetar não somente a saúde física e a esperança de vida, mas também o bem-estar psicológico (Carstensen et al., 2011; Huxhold, Miche & Schuz, 2014).
Num mundo atual em que a solidão e os sintomas depressivos constituem riscos para a saúde pública (APA, 2017), fomentar e preservar boas amizades são um excelente investimento para um envelhecimento mais humanizado, com vigor e significado.
Fonte: https://melhorcuidar.com.br