André Julião | Agência FAPESP – Um grupo de 35 mil idosos de Guarulhos será entrevistado a partir de abril a fim de testar o custo-benefício de um protocolo de diagnóstico e tratamento da depressão em pessoas com mais de 60 anos.
O estudo é realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e do King’s College London, do Reino Unido, financiados pela FAPESP e pelo Medical Research Council.
“Estamos iniciando o ensaio clínico randomizado. Há uma fase de recrutamento muito longa, porque precisamos de mais de 1.400 pessoas. Levando em conta que a prevalência de depressão é de aproximadamente 10% da população, para encontrar esse número de pacientes precisamos entrevistar pelo menos 10 vezes mais”, disse Ricardo Araya, professor do King’s College e um dos responsáveis pela pesquisa.
O estudo foi apresentado na FAPESP Week London, realizada nos dias 11 e 12 de fevereiro de 2019.
No Brasil, a pesquisadora responsável pelo projeto é Marcia Scazufca, professora da FMUSP. Scazufca e Araya já tinham realizado outro projeto em conjunto que serviu de base para o novo estudo.
No trabalho anterior, o grupo desenvolveu o programa experimental de assistência a idosos com depressão, cujo custo-benefício será testado agora. Nos cinco meses da intervenção, composta de visitas às casas de pacientes previamente cadastrados, 87% apresentaram melhora significativa nos sintomas, chegando mesmo a reverter o quadro de depressão.
O projeto serviu ainda para treinar as equipes de agentes comunitários de saúde e para o desenvolvimento do aplicativo, que interage com os idosos usando um tablet.
“Chegamos à conclusão de que a plataforma tecnológica funciona. E há uma eficiência de ao menos 11% comparando as pessoas que usaram e que não usaram. Isso é significativo. Se pensarmos que 10% da população tem depressão, excluindo as crianças, temos potencialmente 12 milhões de brasileiros que poderiam se beneficiar com a plataforma”, disse Araya à Agência FAPESP.
O aplicativo, que recebeu o nome ProActive, foi concebido no Hospital das Clínicas da FMUSP para ser usado na Estratégia Saúde da Família do Sistema Único de Saúde (SUS), em que o trabalho é realizado por equipes de médico, enfermeiro, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde, treinados para liderar a abordagem e realizar os primeiros atendimentos em domicílio.
Nele são usadas técnicas simples de psicoeducação e de ativação de comportamentos, consideradas efetivas para o tratamento da depressão. Uma delas consiste em apresentar ao paciente como diferentes atitudes diante dos sintomas da depressão podem ajudá-lo a se sentir melhor ou piorar o quadro (leia mais em: http://agencia.fapesp.br/24572/).
Agora, com mais voluntários, será possível medir quão efetivo seria o uso da plataforma numa população maior e se o custo seria viável para aplicação no SUS.
“A questão-chave é que não há profissionais especializados para atender toda essa população. Por isso, uma ferramenta como essa, caso se mostre viável, será positiva para a população brasileira”, disse Araya.
Fonte: http://agencia.fapesp.br