Marcos Oliveira retoma carreira no teatro e diz que quer ‘começar de novo

Marcos Oliveira na escrita dramatúrgica é tratada com modéstia. Ator conhecido pelo personagem Beiçola, tem subido ao palco “para dar a cara a tapa”.

A primeira incursão de Marcos Oliveira na escrita dramatúrgica é tratada com modéstia. Ator conhecido pelo personagem Beiçola — do extinto programa “A grande família” (2001-2014), atualmente em reprise na TV Globo —, o paulistano de 67 anos tem subido ao palco “para dar a cara a tapa”, como ele mesmo diz, repetidas vezes. Em cartaz no Espaço Sérgio Porto, no Humaitá, o monólogo “Evolução” marca uma reconexão do artista com o teatro, e inspira novos voos.

— Tive que arregaçar as mangas para conseguir levar adiante esse desejo de me tornar autor. É uma produção paupérrima, feita inteiramente com a ajuda de amigos. O próprio texto sustenta alguma precariedade. Mas já passei a fase da vaidade, e não almejo ser o number one . Quero mesmo que venham as piores críticas, para que eu consiga crescer disso — desabafa.

Em cena, a história da humanidade é apresentada através de esquetes curtas, com personagens relacionados a diferentes épocas, da Idade das Pedras à contemporaneidade. A ideia é esmiuçar as contradições naturalmente atreladas à trajetória do homem, valendo-se de recursos do humor.

— Nossa evolução dá dois passos para frente e dois passos para trás. Quantas mortes aconteceram para que chegássemos aqui? — questiona ele, que encarna personagens como uma professora desequilibrada, uma mulher hippie solitária e um funcionário público aposentado.

O mote para a ficção surgiu durante um dos estudos regulares sobre o budismo, prática que realiza há pouco mais de dois anos. 

Numa conversa, alguém perguntou se existia mesmo evolução humana, e a reflexão veio disso. É claro que superamos diversos desafios ao longo da História, mas tenho a impressão que passamos a pensar cada vez menos com o coração. Não à toa, a grande epidemia de hoje é de caráter moral. Poucos pensam na coletividade. Não existe mais uma cadeia de relações positivas com o outro. Cada um quer viver para si, e dane-se o outro.

O ator Marcos Oliveira, em cena da peça 'Evolução' Foto: Divulgação

Ator quer ‘começar de novo’

Morador de Botafogo, na Zona Sul do Rio, Oliveira mantém uma rotina tranquila: vive sozinho num apartamento, com mais três cadelas adotadas — Mel e Preta, ambas vira-latas; e Lolita, uma shitsu que ganhou da colega Tatá Werneck, com quem contracenou na novela “Deus salve o rei”, de 2018 (“trato ela como sobrinha”, revela).

Quatro anos após o fim de “A grande família”, trabalho a que se dedicou durante 14 anos, ele afirma que está em busca de um recomeço. O desafio torna-se mais penoso à medida que o tempo passa, reconhece:

Existe todo um valor sentimental pelo Beiçola, mas não dá para ficar parado lá atrás. Quero ir para frente, começar de novo, me arriscar e encontrar comigo mesmo — aposta o ator, que estará no elenco de um humorístico inédito no Multishow protagonizado pelo comediante Paulinho Gogó, com o nome provisório de “Dono do lar” e previsão de estreia no primeiro semestre de 2019. — Mas, fora isso, acho que não chegarão outros tantos convites para teledramaturgia. Não existem personagens para a minha idade. Na TV, os velhos são bobos, não carregam conflitos, não têm desejos… Parece que é sempre o mesmo discurso: “Ah, coitadinho do senhor que depende do filho e da família”. Bicho, essa dramaturgia que vemos por aí é muito chata e careta! Fica como um sabão que não lava direito e não faz espuma. Espero que isso mude, de verdade. Já era hora.

Até lá, ele se lança com mais afinco em trabalhos de produção independente. Em março, por exemplo, já há outra temporada confirmada para “Evolução”, no Teatro Ziembinski, na Tijuca, na Zona Norte do Rio. Também neste ano, o artista retomará as aulas de canto e investirá na carreira de crooner.

— Quero fazer um show para a terceira idade. Mas tenho que esperar o verão passar. Com esse calor, minha gargante fica dilatada e minha voz cai lá para o meu pé. Não dá nem para cantar “Batinha quando nasce”.Apoie o jornalismo profissionalA missão do GLOBO é a mesma desde 1925: levar informação confiável e relevante para ajudar os leitores a compreender melhor o Brasil e o mundo. São mais de 400 reportagens, artigos, fotos, vídeos e áudios publicados diariamente e produzidos de forma independente pela maior redação de jornal da América Latina. Ao assinar O GLOBO, você tem acesso a todo esse conteúdo.

Fonte: https://oglobo.globo.com

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