Reações bioquímicas que ocorrem no cérebro e que geram bem-estar após exercícios físicos são objeto de estudo recente.
Que a prática de exercícios está associada à sensação de bem-estar, todos reconhecem. Nem por isso, nós nos sentimos motivados a incorporá-los à vida cotidiana, prática que exige esforço e disciplina.
Depois de caminhar, correr, nadar ou pedalar, entramos num estado de paz e tranquilidade mental, quase inacessível nos dias sedentários. Com os músculos exaustos, ficamos mais relaxados, otimistas e autoconfiantes.
Embora essas sensações sejam conhecidas por qualquer pessoa que se disponha a caminhar alguns quilômetros, o mecanismo pelo qual a atividade física exerce influência sobre o cérebro, a ponto de alterar o humor e o estado de espírito, é mal conhecido.
Um estudo recente publicado na revista Cell, por L. Agudelo e colaboradores do Instituto Karolinska, sugere que um metabólito do aminoácido triptofano (essencial para a produção de vitamina B3) esteja envolvido nesse mecanismo. Esse metabólito é a quinurenina.
A quinurenina e seus metabólitos (compostos resultantes de sua decomposição) participam de funções biológicas essenciais à sobrevivência, como a dilatação dos vasos sanguíneos durante os processos inflamatórios e a organização da resposta imunológica.
Sabemos, há algum tempo, que o aumento da produção de quinurenina pode precipitar sintomas depressivos. Seus metabólitos estão associados a deficiências cognitivas, encefalopatias, esclerose múltipla, aos tiques, ao metabolismo das gorduras, à demência pelo HIV e outros distúrbios psiquiátricos.
O cortisol e outros hormônios liberados durante o estresse e certos mediadores, que participam dos processos inflamatórios, ativam enzimas responsáveis pela síntese de quinurenina, aumentando sua produção, seus níveis na corrente sanguínea e a presença no cérebro.
Ao entrar no cérebro, a quinurenina é convertida em metabólitos que promovem estresse celular e interferem com o comportamento.
Quando o estresse é acompanhado por exercícios físicos, as sucessivas contrações da musculatura promovem uma cascata de reações bioquímicas que levam ao aumento da produção de determinadas enzimas (KATs), que se encarregam de transformar quinurenina em ácido quinurênico.
Ao contrário do composto que lhe deu origem, o ácido quinurênico é incapaz de penetrar a barreira que separa o sangue periférico do líquor, o líquido que banha o sistema nervoso central. Dessa forma, o cérebro fica menos exposto aos efeitos depressivos da quinurenina, portanto mais resistente ao estresse.
Por essas razões, a atividade física deve ser incorporada às estratégias de prevenção e tratamento dos distúrbios relacionados com o estresse, como é o caso das depressões.
O conhecimento desses mecanismos abre a possibilidade de desenvolver drogas que interfiram com os mediadores produzidos durante as contrações musculares, capazes de reduzir a quantidade de quinurenina na circulação sanguínea.
Colher os benefícios da atividade física tomando comprimidos, sem sair da poltrona, é o sonho de todo sedentário.