A violência contra o idoso nem sempre se manifesta fisicamente.
Há formas aparentemente mais sutis, porém igualmente destrutivas, como a violência psicológica, financeira e mesmo a negligência de cuidados. Ou seja, tudo o que pode comprometer a integridade física e/ou emocional do idoso deve ser considerado violência.
O mais complicado é que na maior parte das vezes o agressor é da própria família, o que faz com que o idoso sinta ainda mais dificuldade em buscar ajuda para libertar-se do problema.
Segundo dados de 2011 do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva), da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, entre os idosos, a violência física foi responsável por 64% dos casos notificados. Em segundo lugar, a violência psicológica/moral e negligência/abandono. O autor da agressão, na maior parte dos casos (29,7%) é o filho da vítima.
Já nos números da Secretaria de Direitos Humanos, responsável pelo serviço de denúncia Disque 100, entre 2013 e 2014, 56% dos casos foram de violência psicológica, 43% de abuso financeiro e 27,72% de violência física.
Vale observar que os serviços de saúde têm maior notificação de violência física, porque é o tipo de abuso que os profissionais, sejam médicos, enfermeiros ou outros conseguem enxergar facilmente.
“A menos que seja um episódio isolado, normalmente o idoso sofre mais de um tipo de violência”,
diz Vanessa Alves, assistente social e coordenadora do Programa de Prevenção da Violência ao Idoso do CRI Norte (Centro de Referência do Idoso da Zona Norte), de São Paulo.
Segundo a profissional, a violência acontece, principalmente, porque a velhice é vista por alguns da sociedade como uma fase de decadência na vida.
“A sociedade vê o idoso como alguém que não produz mais riqueza, numa cadeia puramente de produção e consumo”,
afirma.
No CRI Norte, a assistente social diz que os tipos de violência mais comuns com os quais lida no serviço é a negligência de cuidados e a violência psicológica. Em seguida, vêm a física e a financeira.
“Recebemos muitos idosos que têm familiares com dependência de droga e álcool e, por isso, não recebem o cuidado que precisam dos familiares e ainda são ameaçados psicologicamente”,
diz.
Como ajudar?
Como quem comete a violência é, na maior parte dos casos, um familiar, é difícil para o idoso libertar-se da situação, seja porque não quer prejudicar o parente, seja porque é dependente de alguma maneira e não vê saída para o problema. Por esse motivo é importante que a sociedade em geral esteja atenta a essa questão.
Em caso de denúncia, ela pode ser feita pelo Disque 100, serviço da Secretaria de Direitos Humanos. Qualquer pessoa pode ligar 100 pelo celular ou telefone fixo. A ligação é gratuita e recebe denúncias sobre qualquer tipo de violação de direitos humanos.
No caso específico para idosos, é preciso escutar a mensagem automática e apertar o número 2. Os casos são analisados e encaminhados aos órgãos de proteção e defesa da região da ocorrência. O denunciante é mantido em sigilo, seja ele o próprio idoso violentado ou um terceiro.
Além desse serviço, os profissionais de saúde têm papel fundamental na percepção do que acontece com o idoso.
“Não só pelas marcas físicas, mas para tentar entender se há uma relação de dependência emocional e financeira do idoso e como isso se reflete na questão familiar”,
explica Vanessa.
Omissão:
A falta de cuidados também é um tipo de violência e nem sempre detectável, porque pode ser praticada por familiares diretos, comunidade, instituições de longa permanência e pelo poder público.
“Já avançamos muito, mas não há serviços suficientes e nem políticas públicas eficientes que considerem as necessidades do idoso. Isso também é um tipo de violência”,
explica a assistente social Vanessa.
Dentre os casos que chegam até a OAB Santa Catarina, muitos são por conta de familiares que se apossam dos bens do idoso, tanto do salário como da casa.
Outra queixa comum são os maus tratos sofridos por idosos em serviços, como no transporte público, por exemplo. E ainda estão na lista a exploração financeira.
“Serviços de empréstimo com condições especiais para os aposentados merecem atenção, pois podem ser abusivos”,
diz a advogada Marilene.
Prevenção:
Assim como a violência contra a criança, esse tipo de crime contra o idoso também acontece por uma visão generalizada da sociedade de que essa é uma população fragilizada.
“Por isso, nosso principal objetivo é empoderar o idoso e sensibilizar a sociedade para que cada um se imagine na terceira idade e perceba que ele é um adulto com suas particularidades, porém com uma história de vida e direitos”,
afirma Vanessa.
Em Santa Catarina, diversas instâncias se uniram para facilitar a vida do idoso que decidir fazer uma denúncia ou que procure um serviço de saúde ou policial para delatar a violência.
“Até hoje, se um idoso que sofresse violência física ou sexual fosse ao hospital, ele teria de contar ali o que aconteceu, seria então encaminhado para a delegacia, onde precisaria repetir a história, e depois ao IML, e contar tudo de novo”,
explica Marilene.
Entendendo a dificuldade do processo, o Conselho Estadual do Idoso iniciou em setembro de 2016 uma campanha junto aos órgãos de saúde, à OAB e aos serviços policiais para que o idoso conte a sua história apenas uma vez.
“Por meio de uma ficha computadorizada, os órgãos irão se comunicar e a pessoa que prestar o atendimento inicial à vítima preenche a ficha, que será depois acessada pelos demais serviços”, conclui Marilene.