As campanhas que associam cores aos meses têm feito grande sucesso ao engajar pessoas em torno de temas relacionados à saúde e que merecem a nossa atenção. O Outubro Rosa, por exemplo, conscientiza sobre a importância do combate ao câncer de mama, enquanto o Junho Vermelho incentiva a doação de sangue. Nesse sentido, o Janeiro Branco ganhou ainda mais força em 2020.
Com a virada do ano, é comum que as pessoas estabeleçam metas e objetivos para alcançar seus sonhos ou, de uma forma mais geral, melhorar sua qualidade de vida. Não é à toa que as empresas têm investido cada vez mais esforços para trazer esse debate para o ambiente de trabalho.
Mas, afinal, do que trata essa campanha? É isso que vamos responder aqui no post. Mostraremos do começo ao fim tudo o que você precisa saber sobre o Janeiro Branco: objetivos, benefícios, o panorama atual e as melhores práticas para levá-lo à sua empresa. Confira!
A campanha do Janeiro Branco
O Janeiro Branco é uma campanha que convida as pessoas a refletirem sobre a saúde mental. O objetivo é colocar esse tema em evidência, promovendo a conscientização sobre a importância da prevenção ao adoecimento emocional — algo que gera impactos preocupantes em nossa sociedade.
Criada em 2014 por um grupo de psicólogos de Minas Gerais, a campanha chega ao seu sétimo ano no Brasil com a proposta de um mundo no qual as pessoas tenham mais responsabilidade consigo mesmas e com as outras. O site do projeto aponta a necessidade de um trabalho de alcance individual e coletivo. No primeiro caso, isso significa incentivar a autorreflexão sobre a própria vida, seus sentidos e propósitos.
Já a nível institucional, a proposta é bem objetiva, de acordo com o manifesto da campanha: “sensibilizar as mídias, as instituições sociais, públicas e privadas, e os poderes constituídos, públicos e privados, em relação à importância de projetos estratégicos, políticas públicas, recursos financeiros, espaços sociais e iniciativas socioculturais empenhadas(os) em valorizar e em atender as demandas individuais e coletivas, direta ou indiretamente, relacionadas aos universos da Saúde Mental”.
Em outras palavras, reforça a importância de uma mudança de comportamento e mentalidade em vários níveis da nossa sociedade. A urgência do debate em torno do tema é real, como mostram os dados de pesquisas realizadas em todo o mundo. Veremos um pouco mais sobre isso no próximo tópico.
O panorama da saúde mental no Brasil
A questão que motivou a criação da campanha é bem simples (e muito séria): as pessoas estão adoecendo em quantidade e ritmo preocupantes. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), em torno de 12 milhões de brasileiros sofrem de depressão. O número é equivalente a 5,8% da população, colocando o país em segundo lugar no ranking americano (atrás apenas dos Estados Unidos).
Estamos falando de uma doença mental que, segundo o estudo, pode alcançar de 20% a 25% das pessoas no Brasil. A ansiedade, por sua vez, afeta quase 20 milhões de brasileiros (cerca de 9,3% da população). Isso inclui o transtorno obsessivo-compulsivo, problemas de fobia, estresse pós-traumático e até mesmo ataques de pânico.
Já o suicídio é apontado pelo Ministério da Saúde como a quarta maior causa de mortes de jovens no país. São números expressivos e que, muitas vezes, ultrapassam outros indicadores relacionados à saúde e ao bem-estar da população.
Um dos problemas que a campanha Janeiro Branco busca combater, no entanto, é justamente a falta de conhecimento sobre o tema — além de outros obstáculos que dificultam a discussão.
Um diálogo necessário
Historicamente, a saúde mental foi tratada como um tabu na maior parte do mundo. Por mais que os últimos dois séculos tenham trazido grandes avanços nos estudos da Psicologia e da Medicina, o tema demorou para ser abordado como uma questão social. No Brasil, por exemplo, a Reforma Psiquiátrica, que é um grande marco em relação a isso, só ocorreu em 2001 — e ainda enfrenta problemas.
Um deles é o fato de que, culturalmente, muita gente não compreende a subjetividade humana como um possível alvo de transtornos e até mesmo doenças. Por falta de conhecimento ou diversos outros motivos, parte das pessoas não tem o hábito de conversar sobre isso, por medo de se expor ou de demonstrar uma suposta fraqueza.
Hoje, entretanto, é consenso que a saúde emocional é tão importante quanto a “física” — na verdade, ambas estão profundamente atreladas. O nosso organismo pode ser observado por uma perspectiva biológica ou psicológica, mas isso não significa que esses aspectos estão separados.
Como os profissionais da psiquiatria frequentemente apontam, uma parcela da população pode estar sofrendo de doenças emocionais sem nem ao menos saber disso. Andrew Solomon, um grande especialista no assunto, explica em seu livro O demônio do meio-dia: uma anatomia da depressão que “a maioria das pessoas que são pobres e deprimidas se mantêm pobres e deprimidas”.
O motivo é que elas acreditam que o problema faz parte das dificuldades da vida, quando, na verdade, podem estar doentes. Os efeitos colaterais negativos, por sua vez, vão muito além dos obstáculos que qualquer pessoa saudável enfrenta. “O oposto da depressão não é felicidade”, esclarece o autor, “mas vitalidade”.
Isso deixa muito claro que o Janeiro Branco desempenha um papel fundamental ao colocar o assunto em evidência. Depressão, ansiedade e outros transtornos emocionais devem ser discutidos mais abertamente para que possam ser prevenidos e devidamente tratados.
Os objetivos específicos do Janeiro Branco
A campanha estabelece 5 objetivos específicos que norteiam suas atividades. Veja quais são eles.
1. Tornar o mês de Janeiro um marco
Para começar, é preciso fomentar o diálogo. Então, a campanha se propõe a fazer do primeiro mês do ano um período de reflexão, debate, planejamento e proposição de ações em prol da saúde mental. Isso significa criar um marco temporal, a fim de que as pessoas se lembrem do combate ao adoecimento emocional e levem o assunto para seus grupos de amigos e familiares.
2. Chamar a atenção para o tema
Tendo estabelecido um período de ação, o programa almeja chamar a atenção sobre o assunto. Isso envolve, basicamente, levar informação e promover o debate do tema em diversos aspectos: do que se trata, quais as principais doenças, de que forma elas afetam as pessoas, como lidar com elas, onde buscar apoio etc.
3. Aproveitar a simbologia do Ano-Novo
Se a virada do ano é um momento de reflexão e planejamento, o Janeiro Branco assume como meta inserir nesse debate a questão da saúde mental. Com as pessoas mais dispostas a refletir sobre as próprias vidas, o momento é mais propício para a abordagem do assunto.
4. Espalhar a mensagem pelas instituições
A mídia e as instituições (públicas e privadas) são grandes meios para a comunicação de mensagens desse tipo. Além disso, como detalharemos mais à frente, elas são diretamente afetadas por essas questões — em especial no ambiente de trabalho. Então, faz parte dos objetivos da campanha conquistar o engajamento de instituições de todos os tamanhos e setores.
5. Fomentar uma cultura da saúde mental
Contribuir para a formação de uma sociedade que valorize a saúde mental é também uma questão central na campanha. Isso fortalece o autocuidado entre as pessoas — e, consequentemente, impulsiona a criação de políticas públicas para ajudar a população.
Os princípios básicos e o impacto dessa campanha
A participação das instituições na campanha deve seguir as seguintes premissas:
- as ações não devem ter fins lucrativos;
- nenhum tipo de valor pode ser cobrado, nem mesmo simbólico;
- o tema não deve ser usado para publicidade da empresa;
- a produção de materiais pode ser buscada por meio de doações de gráficas e outras empresas;
- palestras e demais ações devem ser financiadas pelos próprios palestrantes ou pelas instituições que promovem o evento;
- a campanha é gratuita, pública, democrática, descentralizada e sem relação com qualquer entidade específica;
- o projeto está sempre em construção e aceita todo tipo de colaboração.
É interessante notar o potencial dessa iniciativa. Ao colocar o tema em evidência e fomentar o debate, as pessoas passam a assumir a importância do assunto e discuti-lo em casa e no ambiente de trabalho. Em consequência, há um potencial de ação muito maior, fortalecendo a luta por políticas públicas e, principalmente, fazendo com que elas ajudem a si mesmas e umas às outras.
Fonte: Saúde na Empresa