Trabalho voluntário pode dar sentido à vida dos idosos na quarentena, diz médico

O voluntariado pode ser a chave para tornar o isolamento social menos penoso para os idosos. Ao ajudar alguém, eles se sentirão úteis e motivados, afirmou o infectologista Alexandre Kalache, durante a live “Agora é Assim”, do G1.

 

O médico deu um conselho aos aposentados com mais de 60 anos. “Abracem uma causa. Quem não encontra uma neste país? Descubra o que te motiva, o que te faz sair da cama”, disse Kalache, especialista em envelhecimento, presidente do Centro Internacional da Longevidade – Brasil e codiretor da “Age Friendly Foundation”, em Boston.

 

A privação de conviver com amigos e familiares, a impossibilidade de passear e o ócio da aposentadoria podem impactar a saúde emocional dos mais velhos. Segundo Kalache, a sensação de que estão “fazendo a diferença para o bem” pode ajudá-los a combater o desânimo durante a quarentena.

 

Beatriz Basile de Carvalho, coordenadora na plataforma de voluntariado Atados, reforça os benefícios dessas atividades para a terceira idade.

 

“Os ‘vô-voluntários’ têm a oportunidade de desenvolver novas habilidades, participando ativamente da inclusão digital, dos novos contextos, da transformação”, diz. “Podem utilizar esse ‘tempo livre’ de maneira produtiva, gerando pertencimento, aumento de autoestima, novos saberes e muita alegria.”

 

Benefícios para a comunidade

 

A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere o voluntariado como forma de estimular a participação dos idosos na sociedade. No documento “Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento”, o órgão reforça a importância de países criarem oportunidades para a terceira idade participar de atividades sociais.

 

Um estudo publicado na “Revista da Escola de Enfermagem da USP” afirma que instituições privadas e públicas devem fazer parcerias com ONGs para criar programas de voluntariado para idosos. Eles não devem ser vistos como um fardo para a sociedade, e sim como agentes ativos de mudanças, capazes de ajudar uma comunidade ou uma instituição.

 

Forma de inclusão social

 

É claro que, durante a quarentena, o voluntariado terá de ser feito à distância. Kalache lembra que é, inclusive, uma forma de inclusão social em tempos de isolamento. “Para quem tem acesso à tecnologia, conversar com amigos e familiares por vídeo e por mensagem ajuda a preencher o tempo na pandemia”, diz o infectologista. “Mas que conselho dar para quem não tem essa possibilidade? É um país cruel, com um terço de pessoas com mais de 60 anos analfabetas. O trabalho voluntário é uma opção.”

 

Há várias opções de atividade social, para diferentes perfis. Um idoso que goste de costurar, por exemplo, pode colaborar na confecção de máscaras de tecido para uma comunidade. Uma psicóloga aposentada tem a possibilidade de fazer atendimentos virtuais gratuitos para pacientes com depressão. É só avaliar as preferências e habilidades do idoso.

 

Ajude um idoso

 

Os mais velhos também podem estar do outro lado do processo: serem o público que receberá a ajuda de voluntários. A Associação Keralty Brasil, por exemplo, procura pessoas que escrevam cartinhas para idosos com doenças crônicas incuráveis.

 

Kalache reforça: a boa ação não precisa necessariamente vir de uma ONG.

 

“Não me venha dizer que você não tem um vizinho solitário. Pergunte para o zelador e peça o telefone da senhora que mora ao lado. Ligue para ela, converse”, diz. “O recado é acolher e abraçar.”

 

Fonte: G1