Em Curitiba, o amor pelas letras e pelos livros também levou a Dona Maria das Mercês Silva a se reinventar depois dos 60 anos.
Foi sempre assim: a Dona Maria, o Felipe e a cumplicidade. A avó assumiu o papel de mãe e sempre fez tudo que pôde para o xodó. Mas quando Felipe entrou na escola, uma nova necessidade dele esbarrou em uma grande dificuldade dela.
Ele voltava do colégio para casa e queria a ajuda da Dona Maria para fazer a lição de casa. O problema é que ela não sabia escrever e nem ler. Ele resolveu, então, dar o jeito dele. E aí, a história dos dois ganhou um novo sentido.
“A gente viu um colégio, estava escrito EJA, eu não sabia o que que era ainda. E falei: ‘Mãe, vamos se matricular lá’. Ela falou: “Não, não”, lembra Felipe.
Insistiu tanto que Dona Maria topou. E vieram as aulas. Nunca foi fácil. Mas sempre tinha o Felipe. E os dois estavam juntos quando perceberam que estava valendo a pena.
“’Felipe, vê se estou lendo certo, filho’. Aí eu falei: ‘abóbora’. Aí Felipe diz: ‘Tá certo, vó!’ Nossa, aquilo ali para mim, o chão abriu, a luz abriu”, conta Maria das Mercês Silva.
A escuridão ficou no passado, e Dona Maria, que aos 70 anos ainda trabalha, pegou tanto gosto que não larga os estudos.
“Vou para a escola e, quando chego, fico até as 11 horas da noite lendo livro e escrevendo”, diz ela.
Uma editora se interessou pela história. Dona Maria deu entrevistas. Nasceu um livro: 111 páginas com memórias e relatos de superação. E vem mais desafios por aí.
“Tirar a minha carta, aprender a dirigir, e eu quero ainda subir na faculdade”, diz Maria.
“E eu quero dar muito mais iniciativa para ela ser professora do jeito que ela sempre quis”, conta o neto.
Fonte: https:// uç . g1.globo.com