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Idosos saem menos, mas poucos reclamam de solidão, diz estudo

Primeiros a serem citados como grupo de risco para o novo coronavírus, os idosos logo se viram na necessidade de se isolar para evitar a infecção por uma doença que poderia ser fatal. Assim, Orfeu, de 90 anos, deixou de fazer caminhadas à beira-mar. Norma, de 81 anos, só sai de casa para ir ao médico. No entanto, mesmo com a rotina alterada, eles não se sentem sozinhos e reproduzem o perfil encontrado por uma pesquisa realizada por quatro centros com serviço de geriatria que apontou que 95,2% dos idosos reduziram as saídas de casa, mas apenas 5,3% relataram sentir solidão.

 

Desde abril, os 557 participantes da pesquisa, que têm entre 60 e 100 anos, começaram a ser entrevistados por telefone para um levantamento que vai durar seis meses. O estudo inclui perguntas sobre medidas de prevenção adotadas, frequência de saídas, recursos de comunicação usados para falar com parentes e amigos, atividade física e saúde mental. As conversas duram de 20 a 30 minutos.

 

“Quando começou a quarentena, a gente começou a receber muitas ligações dos pacientes. Era muita ansiedade e percebemos que não ia ser fácil – mas eles estão aderindo bem às recomendações. Os idosos que relatam impacto são os que tinham vida muito ativa, rotina na rua e atividades. No entanto, quando olhamos a escala de solidão, ela está em níveis baixos. O que dizem é que recebem ligações todos os dias, que estão se sentindo mais acolhidos do que antes”, explica Daniel Apolinário, geriatra do HCor e um dos coordenadores do estudo, conduzido pelo serviço de geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, pela unidade de cardiogeriatria do Instituto do Coração (InCor), pelo Hospital do Coração (HCor) e pelo serviço de oncogeriatria do Instituto do Câncer do Estado (ICESP).

 

O aposentado Orfeu Muriccone, de 90 anos, aderiu ao isolamento mas não deixou de manter contato com as pessoas. Por telefone, fala diariamente com as duas filhas – uma de Sorocaba e outra da capital. Na Praia Grande, onde mora, interage com os vizinhos por meio dos quitutes que prepara. “Gosto de mexer na cozinha, sei cozinhar. Faço bolo, docinhos, pão. Estou fechado em casa mas tenho muita liberdade com o pessoal do prédio.”

 

Bailinhos

 

A dona de casa Norma Alvarenga Peixoto da Costa Lobo, de 81 anos se define como uma “mulher biônica”. Com problemas cardiovasculares, tem nove stents, mas isso não a impedia de ter uma vida ativa. Viajava com amigas, fazia ginástica. “Eu gostava mesmo era dos bailes da terceira idade.

 

Aí, a pandemia parou tudo.” Formada em psicologia, Norma não se deixa abalar pelo isolamento. “Eu aceito tudo que vem. Não vou entrar em desespero nem em depressão.”

 

A redução da prática de atividades físicas foi um dado que preocupou o grupo de pesquisadores. De acordo com o estudo, 57 8% dos idosos afirmaram que, em fevereiro, não faziam exercícios. Em abril, 72,8% afirmaram que estavam sedentários e o índice subiu para 77,8% em junho. Entre os ativos, 17,2% afirmaram que se exercitavam antes da quarentena. O número passou para 9,2% em abril e atingiu 4,5% em junho. “Houve uma queda violenta de níveis de atividade física e essa é uma preocupação de longo prazo. É uma população de alto risco, que vai ficar muito tempo em quarentena. Eles foram os primeiros a entrar e devem ser os últimos a sair”, diz Apolinário.

 

Também chamou atenção a ansiedade dos participantes. “A taxa de ansiedade é relativamente alta. Nos estudos, ansiedade e depressão têm prevalência semelhante. Aqui, a taxa de ansiedade é quase o dobro da de depressão. No começo, eles tinham medo de se infectar, houve preocupação com o desemprego.” Em abril, 17% relataram ansiedade e o número chegou a 19,5% em maio. Em junho, caiu para 14,9%. No caso da depressão, os índices foram 8,5%, 11 9% e 9%, respectivamente. Já de solidão, foram 15,4%, 7% e 5,3%.

 

Fonte: Exame

Conselho de especialista: driblar o tédio e se exercitar é fundamental para os idosos

Nilton Palhares, 76 anos, enumera do que mais sente falta: de nadar, de dançar nos bailes e de conviver com a turma da “confraria dos colunáveis”, um grupo de idosos que têm em comum os problemas de coluna.

 

— No dia em que isto acabar, mesmo que esteja chovendo, vou sair à rua e caminhar 48 horas seguidas — anuncia.

 

Professor aposentado, ele se mantém ocupado com a pesquisa e a catalogação de peças do museu da Rede de Escolas São Francisco, do qual é curador. Mas reconhece que é sofrido viver espremido entre paredes.

 

— É um tédio. Vejo filme. Leio livros. Olho piadinhas nas redes sociais. Rezo. Medito. E durmo. O tempo vai passando. Mas não está muito bom. Está tedioso — queixa-se.

 

O distanciamento de Nilton é vivido com a mulher, Tânia Moll, 61 anos, que também está achando muito difícil ficar em casa. Mas, como é mais jovem que o marido, pelo menos ela sai do apartamento para passear com o cachorro e fazer as compras necessárias.

 

— Estou acostumada a sair todos os dias de casa e ir à Sogipa me exercitar. A rotina está totalmente diferente. Espero que isso acabe. Sinto muita falta do convívio com os amigos. A saída é mandar mensagem, ligar um dia para cada um. Estamos isolados, mas mantendo contato, para nos darmos forças — diz ela.

 

Nilton conta que, pelo menos uma vez por semana, briga com a mulher, “no bom sentido”, para dar uma escapadela do apartamento. Ela ralha e se opõe, mas ele vai até a esquina com o cão.

 

— Ela não quer que eu saia. E eu também sei que o risco é grande. Mas é que cansa ficar em casa. Cansa falar com a vizinha pela janela — explica.

 

Newton Luiz Terra, professor do Instituto de Geriatria e Gerontologia da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), reafirma a importância de os idosos permanecerem em distanciamento social, lembrando que eles são seres diferentes do adulto, com uma série de características próprias, entre elas um sistema imunológico mais vulnerável. Isso não significa que seja fácil ficar confinado. Terra reconhece que a experiência pode ter fortes impactos.

 

— As implicações são emocionais e sociais, com alterações de humor e situações de ansiedade e angústia. Isso vale para todo mundo, mas idosos estão mais propensos. Quanto maior a idade, mais sensível e angustiada a pessoa fica. Serão uns quatro meses de sacrifício. Tem de pensar que é preciso fazer isso agora para poder passar o próximo Natal com os filhos — afirma.

 

O especialista aconselha a procura por serviços online de psicoterapia e aponta que encontrar ocupações é uma medida essencial para manter o emocional equilibrado. Sugere manter contato com outras pessoas por meios digitais, usar e abusar das redes sociais, ver filmes, desenvolver hobbies.

 

— O que não pode acontecer é a pessoa acordar e perguntar: o que eu vou fazer hoje? Tem de acordar com objetivos — diz Terra.

 

Além da mente sã, há a questão do corpo são, mais difícil de alcançar com a inação doméstica. Apesar das circunstâncias, não abrir mão da atividade física é medida que deve estar no topo da lista de todos — inclusive porque há impactos positivos também no lado emocional. O indicado, diz o professor da PUCRS, são 30 minutos de exercício ao dia, cinco dias por semana. Até quem mora no mais apertado JK tem como se exercitar, garante Terra. Quem não dispõe de espaço para andar dentro de casa pode fazer o movimento de caminhar, mas sem sair do lugar, aproveitando para mexer não só as pernas, mas também os braços.

 

— Se fizer essa caminhada parada na frente da TV, o tempo passa rápido — aconselha.

 

Como se manter em atividade no distanciamento social

 

Confira algumas dicas simples de como se manter ativo durante o período em casa (somente realize as atividades que estão de acordo com sua condição física)

 

Alongamentos

 

Em pé, levante os braços sobre a cabeça e entrelace os dedos das mãos. Nessa posição, incline o tronco para a esquerda e para a direita. Repita de cinco a 10 vezes, conforme sua capacidade.

 

Se tiver facilidade para sentar e se erguer: sente-se no chão com as pernas esticadas e abaixe o tronco sobre elas. Permaneça alguns segundos nessa posição e retorne.

 

Articulações

 

Gire as principais articulações do corpo, fazendo movimentos circulares para ambos os lados. Repita algumas vezes isso para os pulsos, braços, ombros e quadril.

 

Atividades

 

Caminhe dentro de casa, de preferência em um espaço um pouco mais amplo, sem obstáculos por perto e sobre uma superfície não escorregadia (como um corredor, se houver).

 

Se estiver habituado a fazer atividades mais intensas, pode simular uma corrida sem sair do lugar.

 

Se houver algum degrau, suba e desça repetidas vezes colocando um pé, depois o outro. Cuidado para não perder o equilíbrio.

 

Fonte: Gauchazh.

Do pátio de casa, idosa recebe festa surpresa para celebrar aniversário de 100 anos

Quem, na tarde desta segunda-feira (8), passou pelos arredores do número 380 da Rua São Marcos, no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, percebeu a movimentação diferente que ali se formava. Com carro de som, balões e familiares reunidos na calçada, a via foi transformada em um salão de festas para celebrar os cem anos de vida de Jovina de Abreu Enes dos Santos, matriarca da família originária de Butiá, na Região Carbonífera.

 

Isolada desde o início da pandemia de covid-19, ela acompanhou a surpresa dos filhos, netos e bisnetos a partir do pátio da residência da filha Eva Marisa dos Santos Oliveira, 64 anos – onde tem passado os dias de quarentena. A idosa, que mantém grande parte do contato com o restante dos familiares apenas por videochamadas no celular, chegou a pensar que a celebração de seus cem anos passaria em branco, devido ao contexto desfavorável para comemorações.

 

Com os tradicionais abraços calorosos de todo aniversário substituídos por acenos e declarações a distância, a festa na calçada surpreendeu e emocionou a centenária dona Jovina – que acreditava já ter vivido de tudo.

 

— A festa estava muito boa e bonita, que nem a dona. Me cantaram os parabéns e a música “beijinho doce”. Veio todo mundo, muita gente, e deu para matar a saudade de todos. Só os que não vieram foram os tataranetos, que já tenho uns seis ou sete, agora não sei dizer. Mas bisnetos sei que são 15 — conta a aniversariante.

 

Festa adequada ao novo normal

 

A ideia de promover a comemoração diferente partiu das netas Patrícia dos Santos, 39 anos, e Veronica dos Santos Oliveira, 36 anos. As duas, que já vinham planejando havia algum tempo a festa de cem anos da vó, foram pegas de surpresa pelo contexto da pandemia e as medidas necessárias para sua contenção.

 

— Nossa ideia era fazer um festão, mas, com tudo isso, não deu. Decidimos fazer a homenagem na rua, pensando em nos aproximarmos dela nesta data, para não deixar que passasse em branco — conta Patrícia.

 

O jeito, então, foi adequar a celebração à nova realidade vivenciada por todos – respeitando as determinações de distanciamento social, sem deixar de celebrar a passagem de uma data tão marcante para a vó.

 

— Procuramos não convidar muitas pessoas para não causar aglomeração. Então, quem participou é quem sempre esteve mais próximo, como filhos e alguns netos e bisnetos — explica Veronica, garantindo que a festança oficial não foi descartada e deve ser feita quando a situação permitir.

 

Descrita por todos da família como uma pessoa faceira e cheia de energia, no auge de seu século vivido, dona Jovina deixa registrado que, apesar da alegria em receber a homenagem da sacada, não vai abrir mão de um bom arrasta-pé em comemoração aos cem anos completados na segunda. Dessa vez, com bastante contato físico – nem que seja para celebrar os 101, no ano seguinte:

 

— Chegar aos cem não é para qualquer um, cheguei porque Deus quis que eu chegasse. Se ele permitir, chego aos 101.

 

Lembranças do passado se misturam ao presente

 

Entre as antigas lembranças da infância de dona Jovina, estão os relatos feitos pelos pais e avós a respeito de uma época em que todo o mundo também precisou ficar em casa. Nascida em 1920, ela lembra das histórias que ouviu, ainda criança, a respeito da pandemia da gripe espanhola, que teve seu auge nos anos de 1918 e 1919.

 

Hoje, quando o planeta enfrenta novamente uma doença ainda desconhecida, a saudade de estar perto de quem ama é o que mais aperta o peito da idosa centenária.

 

— No início, ela perguntava se era uma guerra, depois entendeu do que se tratava. Às vezes ela esquece, mas, quando assiste televisão e vê as notícias, lembra do que a avó contava e vai comentando. Ela está sentindo muito a falta das pessoas, porque vivia rodeada de gente. Mas, no geral, está suportando bem e se cuidando bastante, sempre passando seu álcool gel — conta a filha Eva Marisa, que tem cuidado da mãe durante este período.

 

Na rotina do isolamento, a idosa não deixou de lado a prática dos exercícios físicos diários e o hábito da leitura – apesar de não estar conseguindo ler o jornal impresso, que sempre gostou de acompanhar, pois não há quem saia para comprá-lo. Independente e sem qualquer grande problema de saúde, dona Jovina, que mora sozinha, também não vê a hora de poder voltar pra casa – onde, segundo a filha, a idosa não para nem por um instante:

 

— Lá, ela não sossega um minuto. Arranca grama do pátio agachada, lava roupa, sempre com água morna, e faz de tudo. Adora dizer que está “firme na paçoca”. Todo mundo comenta que vai chegar aos 110, e ela dá risada. Às vezes, a gente nem acredita. Não dá nem pra expressar a alegria de vê-la assim.

 

Fonte: Gauchazh

Educação, capital humano e terceira idade

E o futuro chegou. Em breve seremos um país de grisalhos, e, em um pouco mais de tempo, um país de idosos. A dificuldade atual em aprovar mudanças na Previdência Social vai soar como briga de criança quando uma população envelhecida lutar pelas suas necessidades de sobrevivência.

 

Uma política de longo prazo para a Terceira Idade tem pelo menos duas dimensões. De um lado, a dimensão individual – preparar os indivíduos para viver mais tempo e em condições saudáveis. E essa preparação não começa com cursinhos de dança para os maiores de 60, mas na Primeira Infância. De outro, a dimensão coletiva – ampliar o tempo de contribuição produtiva dos indivíduos para si mesmos e para a sociedade. Tudo isso precisa ser desenhado e implementado num prazo relativamente curto, em meio a uma incerteza brutal a respeito do futuro do emprego. Sem falar em medidas transitórias para aprender e a lidar com os contingentes de idosos que aumentam a cada dia e que chegam despreparados para enfrentar longos anos de velhice. Desafio para gente grande.

 

Novamente neste capítulo pode ser de grande ajuda o entendimento da questão no contexto de uma política de Capital Humano. Talvez esse seja o único marco amplo o suficiente para formular medidas suficientemente amplas e adequadas para lidar com as várias dimensões da questão: educação, saúde, previdência social, emprego, urbanismo, moradia, mobilidade…. e por aí vai.

 

O Brasil vive um momento em que o corporativismo predomina nas decisões – especialmente no que se refere à alocação de recursos públicos ou da regulação das iniciativas privadas – a greve dos caminhoneiros ajuda a entender a opção preferencial dos políticos pelos grupos que falam mais alto. O resultado tem sido desastroso e já compromete grande parte dos recursos públicos, inviabilizando investimentos essenciais para as futuras gerações.

 

O que outros países já experimentam – e que pode servir de alerta – é o alto poder de persuasão que podem exercitar contingentes enfurecidos de idosos descontentes, seja ou não por justa causa. Em alguns distritos dos Estados Unidos, por exemplo, não são incomuns casos de votação popular para eliminar investimentos em educação, de forma a sobrar mais recursos para a população idosa. A antropologia nos ensina que da mesma forma que pais podem sacrificar alguns filhos para assegurar a sobrevivência de outros, idosos poderão recorrer a semelhantes estratégias: o homem é o lobo do homem.

 

Resta, portanto, a pergunta aos candidatos: o que propõem como política para a terceira idade? Que foros vão criar para tratar dessas questões? Como uma política de capital humano pode incorporar o potencial contributivo dos contingentes cada vez maiores de brasileiros da terceira e quarta idade?

 

Fonte: Veja.

Visitas virtuais, orações e muita televisão: como está a rotina nos lares geriátricos

Redutos de uma população mais vulnerável ao coronavírus, as geriatrias de Porto Alegre estão em alerta. Um dos óbitos registrados na Capital foi de uma idosa que morava em uma clínica geriátrica. Para não correr esse risco, algumas casas têm optado por medidas mais rigorosas do que aquelas recomendadas pelas autoridades, suspendendo totalmente as visitas de familiares em vez de apenas reduzir horários. Para contornar a saudade, os idosos preenchem os dias com ligações virtuais, televisão e orações.

 

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) enviou orientações a cerca de 150 Instituições de Longa Permanência para Idosos (Ilpis) em Porto Alegre, como clínicas, residenciais e comunidades terapêuticas. Cada uma abriga de 15 a 20 idosos, que devem ser monitorados de perto para que sintomas de síndromes respiratórias sejam identificados e informados à SMS. A orientação é que as casas melhorem a higiene, utilizem equipamentos de proteção individual (EPIs), limitem as visitas, vacinem idosos e funcionários. Já o Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa) recomendou também a interrupção de atividades lúdicas e de fisioterapia eletiva.

 

O diretor da Vigilância em Saúde de Porto Alegre, Anderson Lima, afirma que nas últimas semanas 30 Ilpis foram vistoriadas para garantir o cumprimento dessas medidas.

 

— Quando somos comunicados por uma Ilpi, temos estratégia para testar o funcionário no drive-thru, no largo da Epatur, e, se for interno, vamos lá coletar o material. Na medida em que tiver algum caso suspeito, vamos agir com celeridade — promete Lima.

 

Preocupada com a pandemia, a Gerontologia Santa Cecília foi uma das primeiras a suspender as visitas de familiares, ainda em 13 de março. Desde então, a bancária aposentada Neusa Beatriz Dias aciona as cuidadoras da casa para que ajudem a mãe, Leila, a receber chamadas por vídeo ou áudio.

 

— Ainda não a vi triste, está sempre alegre, mas gostava de receber visita e está perguntando se tudo isso vai demorar muito — relata Neusa, que costumava visitar a mãe duas vezes por semana.

 

A bancária conta que Leila Barbosa Dias, 86 anos, tem alzheimer e parkinson, mas ainda reconhece as filhas e tem momentos de lucidez. Vaidosa, está sempre com colar, pulseira e anel. Com a ajuda da cuidadora, Leila manda notícias à filha por mensagem de áudio:

 

— Estou com muita saudade tua, estava preocupada com esse vírus que anda aí.

 

A clínica também pede que parentes enviem vídeos e incrementou o calendário de atividades, com orações, aulas variadas e musicoterapia. Depois de uma aula de culinária, Évora da Rosa e Silva, 92 anos, mandou um áudio para a repórter (para evitar expor os idosos a riscos, esta reportagem foi feita a distância):

 

— Estou ficando com saudades de todo mundo, quem não sente saudades numa hora dessas? Dos meus filhos. Mas estão todos felizes, então eu me sinto feliz por isso. Uma noite feliz para ti, que assim seja.

 

O novo uniforme da casa para os funcionários inclui aventais e máscaras descartáveis, toucas e, eventualmente, escudo facial. Portanto, também eles estão mais distantes dos idosos:

 

— Tentamos sorrir com os olhos porque estamos sempre de máscara. Para eles perceberem que não estão sozinhos nem abandonados — diz a proprietária, a gerontóloga Ana Vitória Sacramento.

 

Localizado no bairro Cidade Baixa, o Residencial Lima e Silva encontrou um jeito alternativo de manter as visitas. A funcionária pública aposentada Sonaly Delaunay, 56 anos, para diante do portão e força a voz para que ela alcance a sua mãe. A escritora e artista Olga Silveira, 81 anos, permanece dentro da casa, a cerca de dois metros de distância da rua.

 

— Primeiro, tentei dizer que estava trabalhando muito, por isso não ia mais poder vir, mas daí explicaram para ela. Ela sabe que tem algo ruim acontecendo, que tem gente morrendo, mas estou tranquila porque não está entrando ninguém — diz Sonaly.

 

Muitos dos 20 hóspedes da casa sofrem de demência ou alzheimer, como Olga. Por isso, as funcionárias têm de explicar a ausência dos parentes. Márcia Rodrigues, auxiliar administrativa da casa, conta que as visitas ao vivo, mesmo a distância, são um alento especialmente para aqueles que não ficam à vontade com a tecnologia das chamadas por vídeo.

 

— Tem bastante gente que vem aqui na calçada e fala com eles de fora pra dentro, vê que estão bem. Esses dias tinha uns quatro, estava um falatório. Algumas vezes, o telefone os deixa mais nervosos — conta Márcia.

 

No Asilo Padre Cacique, lar de 103 idosos de 62 a 96 anos, as visitas de familiares já não eram frequentes antes da pandemia. A casa acolhe idosos carentes com renda de no máximo um salário mínimo e sem responsáveis por eles. Como alguns deixavam o asilo para vender coisas na rua ou visitar conhecidos, o presidente Edson Brozoza decidiu ser rigoroso:

 

— Falei que quem sair não volta mais. Tínhamos 104 moradores, uma família resolveu tirar uma moradora, assinou termo que ela não volta.

 

O advogado que administra a casa se preocupa especialmente com os idosos em estado crítico. Há vários deles na enfermaria, alimentando-se por sonda. Além de dispensar os funcionários com qualquer sintoma de gripe, o asilo aumentou as medidas de higiene e distribuiu EPIs à equipe.

 

— Eles trocam a luva ao mudar o paciente, passam no máximo duas horas com a mesma máscara, passam por higienização na entrada e na saída — relata Brozoza.

 

Outra providência foi cortar o noticiário, que coincidia com o horário das refeições. Agora os quatro televisores no refeitório mostram vídeos de festas promovidas no passado. Moradora do asilo há nove anos, Vilma Brandina Jacinto Mazarem, 83 anos, prefere assim:

 

— Leio muito que assim o tempo passa rápido, rezo, tenho bastante amigas, umas fazem crochê. Mas não olho mais as notícias porque fico nervosa — conta a idosa, que mantém o bom humor. – Queria sair para namorar, mas não dá.

 

Nas últimas semanas, as doações ao asilo caíram mais de 80%, e a receita de R$ 70 mil que vinha do aluguel de outros imóveis da instituição também foi reduzida, pois locadores cortaram parte do pagamento. Segundo o presidente, as despesas mensais somam cerca de R$ 500 mil – só a conta dos remédios varia de R$ 45 mil (quando há doação de algum laboratório) a R$ 70 mil. E a folha de pagamento dos funcionários (são 98) é o que mais pesa: R$ 400 mil.

 

— Não recebemos muito das pessoas com posse, e sim das humildes. Teve uma senhora que veio de Alvorada trazer duas caixinhas de leite porque ouviu o Macedo pedindo na Rádio Gaúcha. Nosso consumo diário é de cem caixas de leite — ressalta Brozoza.

 

Fonte: Gaúchazh.

O segredo para uma vida longa, feliz e saudável? Respeito e positividade

Respeitar os idosos é uma premissa básica da sociedade. Agora evidências científicas mostram que essa postura, além de correta moralmente, pode salvar vidas e ajudar a mantê-los saudáveis física e mentalmente. Uma análise da rede global de jornalismo Orb Media concluiu que países com altos níveis de respeito pelos idosos registram melhor saúde entre as populações mais idosas e menores níveis de pobreza para maiores de 60 anos. Encarar o envelhecimento de forma positiva também é crucial para uma vida longa, feliz e saudável, segundo informações da rede CNN.

 

Realidade: desrespeito e negatividade

 

A expectativa de vida não para de crescer no mundo e, consequentemente, a população idosa também. Estima-se que em 2050, 2,1 bilhões de pessoas terão mais 60 anos. Por outro lado, a maioria dos entrevistados por uma pesquisa realizada em 57 países pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2016 relatou que os idosos não são respeitados.

 

Os estereótipos negativos também podem ser perigosos para as pessoas mais velhas, inclusive reduzindo a expectativa de vida. Uma análise feita por Becca Levy, professora de saúde pública e psicologia da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, mostrou que pessoas com uma atitude positiva em relação ao envelhecimento viviam em média 7,5 anos a mais do que aqueles que encaravam esse fato como algo ruim.

 

“Ficamos muito surpresos com essa diferença”, disse Becca à CNN. Segudo a pesquisadora, pessoas com mentalidade positiva vivem mais porque esse tipo de atitude pode influenciar os mecanismos psicológicos, comportamentais e fisiológicos do corpo.

 

Infelizmente, essa parece ser a realidade para muitas pessoas. Um relatório recente da Royal Society for Public Health, no Reino Unido, trouxe conclusões sombrias sobre perspectivas em relação ao envelhecimento: 47% dos entrevistados acreditava que as pessoas com mais de 65 anos lutavam para aprender novas habilidades. Um quarto das pessoas de 18 a 24 anos e 15% do total de entrevistados concordaram que “é normal ser infeliz e deprimido quando você está velho”.

 

Benefícios da positividade

 

O pensamento positivo pode melhorar o comportamento, levando as pessoas a se engajarem em estilos de vida mais saudáveis, como a prática de exercícios. A positividade de uma pessoa também pode melhorar sua psicologia, tornando-a melhor no enfrentamento do stress, contribuindo para a redução de problemas de memória e condições mentais, como depressão e ansiedade.

 

Um estudo realizado por pesquisadores de Baltimore, nos Estados Unidos, concluiu que pessoas com uma atitude positiva em relação ao envelhecimento tinham menos doenças cardiovasculares, produziam menos cortisol – o hormônio do stress – e menor probabilidade de demência.

 

Por incrível que pareça, países de alta renda, altamente industrializados tendem a desvalorizar pessoas mais velhas. Segundo Erdman Palmore, professor de psiquiatria e ciências comportamentais da Universidade Duke, nos Estados Unidos, as políticas de aposentadoria fazem com que as pessoas mais velhas pareçam menos valiosas para a sociedade e para a economia de um país. Por outro lado, as sociedades rurais tradicionais tendem a ter maior respeito porque os idosos podem continuar trabalhando por mais tempo e são mais valiosos para a economia.

 

De acordo com a Pesquisa de Valores Mundiais realizada entre 2010 e 2014, Japão, Coréia do Sul e Argentina são os três países que menos respeitam os idosos. Surpreendentemente, Uzbequistão, Georgia e Catar são os que mais respeitam.

 

Fonte: Veja.

7 dicas para idosos cuidarem da saúde mental durante a quarentena

Segundo relatórios da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde alguns grupos da população são mais suscetíveis à Covid-19, doença causada pelo coronavírus. Entre esses conjuntos mais vulneráveis estão idosos, diabéticos, hipertensos, quem tem insuficiência renal, doenças respiratórias ou cardiovasculares crônicas. Desse modo, as autoridades médicas já indicaram que é de suma importância a permanência desses indivíduos em casa enquanto a disseminação não for controlada.

Apesar de prejudicial a todos, a falta de contato social pode ser de gravidade ainda maior quando se trata daqueles com idade mais avançada, os quais tem menos familiaridade com recursos de interação virtual e, muitas vezes, uma saúde debilitada que requer monitoramento, de modo a dificultar a obediência às recomendações médicas de isolamento. “Os maiores riscos são o deterioro cognitivo e em alguns casos a presença da ideação suicida, que pode piorar de acordo com algumas faixas etárias. Uma pessoa que passou a vida inteira deprimida, por exemplo, tem chances de apresentar esse traço na velhice, particularmente os homens. Isso se aplica, nesse caso, em sair de casa ou se contaminar”, explica Cloves Amorim, professor da graduação de psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), onde também ministra aulas sobre envelhecimento e saúde da pessoa idosa na pós-graduação.

Segundo o psicólogo, neste momento de quarentena é essencial que os familiares se atentem ao monitoramento da assistência básica, mesmo que de forma remota. “A presença do excesso de medicamentos dentro de casa pode fazer o idoso tomar remédios que não deveria ou se confundir com os horários se estiver muito tempo sozinho”, diz. Além disso, Cloves explica que o cuidado com a alimentação e a hidratação são críticos nesta tensa atmosfera. “É possível que comam demais ou então abusem do açúcar, o que torna aqueles que têm glicose alta e pré diabéticos ainda mais vulneráveis. Esquecer de tomar água também é comum, e algumas síndromes podem ser ocasionadas pela falta do líquido no organismo”, explica.

Tanto Cloves, quanto a psicóloga Regina Célia Celebrone, que coordenou o laboratório Luto e Envelhecimento da Universidade Federal do Paraná (UFPR) são unânimes em dizer que o maior risco da quarentena para os idosos é o desenvolvimento de doenças mentais como depressão, pânico e ansiedade ao carecerem de estímulos, contato e interação social. Em contrapartida, Regina defende a ideia de que esse contexto não precisa ser ameaçador. “O isolamento é social mas não tem que ser emocional. Inclusive, ele pode possibilitar a aproximação afetiva entre gerações. Esta é uma oportunidade de estreitar vínculos até então enfraquecidos e empoderar o diálogo”, afirma.

Neste cenário extremamente delicado para os idosos, os psicólogos apontam tecnologia, construção de rotina e acesso a informação como alguns meios de incentivar os mais velhos a permanecerem em casa e não se exporem a riscos provenientes tanto do ambiente externo quanto do próprio isolamento.

Veja, na galeria de imagens a seguir, 7 dicas compartilhadas pelos especialistas:

1 – Dê descanso ao seu cérebro. 

“Diminua a quantidade de informações quanto ao Covid-19, selecione melhor as informações recebidas. O cérebro também precisa de descanso. Não deixem os pensamentos negativos tomarem conta do seu dia. Assim que eles aparecerem duvide deles imediatamente”, explica Prado. 

 2 – Preocupe-se com o que está ao seu alcance

Lembre-se que você é responsável apenas por aquilo que está no seu controle. Você pode controlar apenas o que está no seu alcance, não sofra por aquilo que não está em suas mãos. 

Por exemplo, lavar as mãos e manter o isolamento social é algo que está no seu controle. Porém, se terá comida nos supermercados ou se outras pessoas estão cumprindo a quarentena, não é algo que você pode, ou deve, controlar.

3 – Aproveite esse período para reorganizar seus pensamentos

O período de isolamento social pode ser uma alternativa para conseguir “ajeitar a casa”. Para isso, busque elencar o que faz bem e o que pode ser deixado de lado no seu dia a dia. 

4 – Tire proveito do tempo em família

“Observe seu ambiente familiar. Aproveite para aprender a conviver com pais, maridos, esposas, filhos”, sugere a coordenadora do curso de Psicologia da Estácio Interlagos.

5 – Foque no que é importante

Apesar da oportunidade de aproveitar o “tempo livre” para aprender ou curtir a família, não queira fazer milhões de coisas ao mesmo tempo. Mantenha o foco em coisas que são realmente importantes nesse momento. 

6 – Desacelere

Na correria do dia a dia, muitas vezes nos acostumamos a viver tudo rapidamente, sem ter tempo de realmente apreciar os momento bons. Por isso, desacelere e reaprenda a contemplar a vida.

“Se tiver oportunidade, pinte. Livros de pintura são ótimos para este momento. Promovem a desaceleração da mente, tranquilizam e aumentam a concentração”, indica Sonia Prado.

7 – Pratique exercícios dentro de casa

endorfina é um hormônio que promove a sensação de bem-estar e que é liberado em grandes quantidades durante a atividade física. Uma opção é manter (ou desenvolver) a rotina de exercícios em casa, com a ajuda de aplicativos ou vídeos em redes sociais, “Com o tempo os pensamentos negativos serão substituídos por lembranças boas e a ansiedade fará cada vez menos parte da sua vida”, reforça a professora e psicóloga.

Fonte: https://querobolsa.com.br/

Caderno de Receitas de Ema Klabin

A publicação Caderno de Receitas de Ema Klabin foi criada a partir de pesquisa, encontros, cursos e palestras sobre gastronomia, que aconteceram na Casa-museu idealizados por Janka Babenco.

As receitas selecionadas por Janka partiram dos diários de jantares, cadernos domésticos de receitas e referências biográficas da colecionadora.

Foram reunidas receitas que apresentam a culinária praticada na cidade de São Paulo dos anos 1950 ao final dos anos 1970, mostrando a integração e a interculturalidade que permeou a trajetória da colecionadora Ema Klabin.

Disponível para download em: https://emaklabin.org.br/gastronomia/caderno-de-receitas-de-ema-klabin